quarta-feira, 4 de junho de 2025
PRÓXIMAS DATAS PARA PAGAMENTOS DE MENSALIDADES
Os alunos abaixo têm seu vencimento no próximo sábado, dia 07/06/25.
Agatha Emanuelly da Rocha |
Anelise Arruda Belmonte |
Annelize de Paula Silva Amorim |
Blenda Karoliny de Almeida Rodrigues |
Bruno
Cori Cortez Acioli |
Carion Vinicius Siqueira de Souza |
Edgar Platyon de Souza Paes |
Gabriel Graffitti Lara |
Helloyse Pinheiro Neto Cavalcante * |
Luiza Nascimento Otoni |
Maria Eduarda Ferretti da Rosa |
Mariana Miranda Pupin |
Pedro Henrique Alves de Oliveira Silva |
Quenã Alexandre Novais |
Sarah Menna Barreto Ferreira |
segunda-feira, 2 de junho de 2025
TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 07/06/25 – VALE 10,0%
Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para
realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Texto 01
O arquivo
Victor Giudice
No fim de um ano
de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.
joão era moço.
Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um
dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou
atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.
No dia seguinte,
mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário
reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou a tomar
duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava
mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
Dois anos mais
tarde, veio outra recompensa.
O chefe chamou-o e
lhe comunicou o segundo corte salarial.
Desta vez, a
empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior:
dezessete por cento.
Novos sorrisos,
novos agradecimentos, nova mudança.
Agora joão
acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia
menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento
aumentou.
Prosseguiu a luta.
Porém, nos quatro
anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.
joão
preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos.
Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou
a trabalhar mais duas horas diárias.
Uma tarde, quase
ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.
Respirou
descompassado.
— Seu joão. Nossa
firma tem uma grande dívida com o senhor.
joão baixou a
cabeça em sinal de modéstia.
— Sabemos de todos
os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso
reconhecimento.
O coração parava.
— Além de uma
redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de
ontem, rebaixá-lo de posto.
A revelação
deslumbrou-o. Todos sorriam.
— De hoje em
diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de
férias. Contente?
Radiante, joão
gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao
trabalho.
Nesta noite, joão
não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.
Mais uma vez,
mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche.
Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita
roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.
Chegava em casa às
onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois
ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos
prêmios.
Aos sessenta anos,
o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à
fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas
quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos
campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol
adquirido há muito tempo.
O corpo era um
monte de rugas sorridentes.
Todos os dias, um
caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de
serviço, foi convocado pela chefia:
— Seu joão. O
senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua
função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.
O crânio seco
comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas
nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos.
Tentou sorrir:
— Agradeço tudo
que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.
O chefe não
compreendeu:
— Mas seu joão,
logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses
terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo
isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?
A emoção impediu
qualquer resposta.
joão afastou-se. O
lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A
cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos
lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.
joão transformou-se num arquivo de metal.
01) A Ironia consiste
em dizer o contrário do que se pensa, mas dando a entender o que realmente se
pensa, é empregada num texto como recurso para criticar determinada pessoa ou
determinada situação. Qual dos termos abaixo, retirados do texto não representa
ironia?
a) Recompensa
b) contentamento
c) reconhecimento
d) objetivos
e) emoção
02) O nome da personagem aparece
grafado com inicial maiúscula, apenas no primeiro parágrafo do texto. No
restante da narrativa parece com inicial minúscula. Sobre isso aponte a
alternativa correta:
a) Essa maneira de escrever não constitui
uma infração de ortografia;
b) A liberdade textual permite que o
autor, em qualquer tipo de texto, reduza a letra inicial do nome tornando-o um
substantivo comum;
c) A intenção do autor, ao infringir
propositalmente a gramática, provavelmente seria mostrar a transformação de
João numa coisa, num ser inanimado, já que substantivos comuns se grafam com
letra inicial minúscula;
d) João é um substantivo que pode ser
comum e próprio ao mesmo tempo na língua portuguesa;
e) nra
03) Ainda sobre o texto é falsa a
alternativa...
a) A situação ironizada pelo autor é a
situação do trabalhador, que por mais que se esforce, ganha cada vez menos e
acaba perdendo a dignidade;
b) O clímax da gradação apresentada no
texto sobre a carreira de João, seria o corte total do salário e a nova função:
faxineiro de sanitários;
c) No desfecho do conto João transforma-se
num arquivo;
d) O desfecho do texto mostra a
desumanização de João, ou seja, do trabalhador mal remunerado;
e) Sobre moradia, o texto mostra que João
muda-se para locais cada vez mais pobres, porém perto do seu trabalho, até
ficar no relento.
04) Em qual das alternativas abaixo
o sujeito é Inexistente?
a) Finalmente, deixara de jantar.
b) O almoço reduzira-se a um sanduíche.
c) Emagrecia, sentia-se mais leve, mais
ágil.
d) Não havia necessidade de muita roupa.
e) Eliminara certas despesas inúteis,
lavadeira, pensão.
05) Em todas as alternativas abaixo
o sujeito é Oculto, com exceção da alternativa...
a) No dia seguinte, mudou-se para um
quarto mais distante do centro da cidade.
b) Com o salário reduzido, podia pagar um
aluguel menor.
c) Passou a tomar duas conduções para
chegar ao trabalho.
d) No entanto, estava satisfeito.
e) Dois anos mais tarde, veio outra
recompensa.
Texto
02
MOÇA DEITADA NA
GRAMA
Carlos Drummond de
Andrade
A moça estava
deitada na grama.
Eu vi e achei
lindo. Fiquei repetindo para meu deleite pessoal: “Moça deitada na grama.
Deitada na grama. Na grama”. Pois o espetáculo me embevecia. Não é qualquer
coisa que me embevece, a esta altura da vida. A moça, o estar deitada na grama,
àquela hora da tarde, enquanto os carros passavam e cada ocupante ia ao seu
compromisso, à sua alegria ou à sua amargura, a moça e sua posição me
embeveceram.
Não tinha nada de
exibicionista, era a própria descontração, o encontro do corpo com a
tranquilidade, fruída em estado de pureza. Quem quisesse reparar, reparasse;
não estava ligando nem desafiando costumes nem nada. Simplesmente deitada na
grama, olhos cerrados, mãos na testa, vestido azul, sapatos brancos, pulseira,
dois anéis, elegante, composta. De pernas, mostrava o normal. Não era imagem
erótica.
Dormia? Não.
Pequenos movimentos indicavam que permanecia consciente, mas eram tão pequenos
que se percebia seu bem-estar inalterável, sua intenção de continuar assim à
sombra dos edifícios, no gramado.
Resolvi parar um
pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça,
plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de
ser imóvel. E que arfava docemente. Ah, o arfar da moça, que lhe erguia com
leveza o busto, lembrando o sangue de circular nas artérias silenciosas, tão
vivo; e tão calmo, como se também ele quisesse descansar na grama, curtir para
sempre aquele instante de felicidade.
Eis se aproxima um
guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. De leve. Ela abre os olhos, sorri
bem-disposta:
– Quer deitar
também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:
– Não, moça… me
desculpe. É o seguinte. A senhora… quer fazer o favor de levantar?
– Levantar por
quê? Está tão bom aqui.
– A senhora não
pode ficar aí assim não. Levante, estou lhe pedindo.
– Por que hei de
levantar? Minha posição é cômoda, eu estou bem aqui. Olhe ali adiante aquele
homem, ele também está deitado na grama.
– Aquele homem é
diferente, a senhora não percebe?
– Percebo que é
homem, e daí? Homem pode, mulher não?
– Bom, poder
ninguém pode, é proibido, mas sendo homem, além disso mindingo…
– Ah, compreendo
agora. Sendo homem e mindingo, tem direito a deitar no gramado, mas sendo
mulher, tendo profissão liberal, pagando imposto de renda, predial, lixo,
sindicato, etc., nada feito. É isso que o senhor quer dizer?
– Deus me livre,
moça. Quem sou eu para dizer uma coisa dessas? Só que é a primeira vez, e eu
tenho dez anos de serviço, que vejo uma dona como a senhora, bem-vestida,
bem-apessoada, assim espichada na grama. Com a devida licença, achei que não
ficava bem imitar os homens, os mindingos, que a gente tem pena e deixa por aí…
– Faça de conta
que eu também sou mindinga – e a moça abriu para ele um sorriso
especial.
– Para o bem da
senhora, não convém se arriscar desse jeito.
– Eu acho que não
estou me arriscando nada, pois tem o senhor aí me garantindo.
– Obrigado. Eu
garanto até certo ponto, mas basta a gente virar as costas, vem aí um elemento
e furta o seu reloginho, a sua bolsa, as suas coisas.
– Sei me defender,
meu santo. Tenho o meu cursinho de caratê.
– Tá certo, mas
não deve de facilitar. A senhora se levante, em nome da lei.
– Espere aí. Ou
todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade.
– Essa lei eu não
conheço, dona. Não posso conhecer todas as leis. Essa que a senhora fala, eu
acho que não pegou.
– Mas deve pegar.
É preciso que pegue, mais cedo ou mais tarde.
– Não vai
levantar?
– Não.
Ele coçou a
cabeça. Agarrar a moça era violência, ela ia reagir, juntava povo, criava caso.
Afinal, não estava fazendo nada de imoral nem subversivo. Por outro lado, não
pegava bem moça deitada na grama – ele devia ter na mente a idéia de moça
vestida de gaze, aérea, meio arcanjo, nunca deitável no chão de grama, como
qualquer vagabundo fedorento.
– A senhora não
devia me fazer uma coisa dessas.
– Fazer o quê?
– Me expor nesta
situação.
– Eu não fiz
nada, estava numa boa oriental, o senhor chega e…
– É muito difícil
lidar com mulheres, elas têm resposta para tudo.
– Vamos fazer uma
coisa. O senhor faz que não me viu, vai andando, eu saio daqui a pouco. Só mais
dez minutos, para não parecer que estou cedendo a um ato de força.
– Pode ficar o
tempo que quiser – decidiu ele. – A senhora falou numa tal lei da igualdade,
então vamos cumprir. Só que aquele malandro ali adiante tem de se mandar
urgente, eu vou lá dar um susto nele, já gozou demais da lei da igualdade,
agora chega!
06) A frase “Não é qualquer coisa
que me embevece a essa altura da vida” mostra que:
a) O cronista já não era jovem
b) O cronista não tinha medo da morte
c) O cronista teme a morte como qualquer
outro ser humano
d) O cronista compadece da situação da
moça
e) nra
07) Sobre o texto é correto afirmar
que:
a) A moça deitada na grama compõem uma
cena que transmitia tranquilidade, calma e descontração
b) A chegada de um guarda não perturbou a
tranquilidade da Moça
c) O convite que a moça faz ao Guarda para
aproveitar a tarde gostosa, a fala dela e sua capacidade de argumentar, deixa o
mais seguro de si
d) O sinal de pontuação que revela na
resposta do guarda que ele ficou encabulado, é o ponto de exclamação
e) A moça em momento algum se acha no
direito de desobedecer ao guarda
08) Sobre o texto é incorreto
afirmar que
a) Ao dizer que o outro além de ser homem
era mendigo, o guarda contra-argumenta a moça
b) Ao comparar a atitude da moça quando
mendigo, o guarda leva em conta a diferença de sexo e a situação social de cada
um
c) Ao dizer “A senhora se levante em nome
da lei.” o contra-argumento utilizado pela moça é, “ou todos se levantam ou eu
continuo deitada em nome da lei da igualdade”
d) A moça quis sair um pouco depois do
guarda para não parecer que está cedendo a um ato de força
e) nra
09) Em qual das alternativas abaixo,
o termo “moça” aparece como núcleo do sujeito?
a) ...a moça e sua posição me
embeveceram.
b) – Deus me livre, moça.
c) ...e a moça abriu para ele um
sorriso especial.
d) Agarrar a moça era violência, ...
e) Por outro lado, não pegava bem moça
deitada na grama – ...
10) Leia as orações abaixo e
assinale a alternativa que identifica corretamente os sujeitos:
I. Meias e sapatos
estão em promoção naquela loja.
II. Garoou muito em São
Paulo nos últimos dias.
III. Aluga-se esta casa.
a)
sujeito composto; sujeito inexistente; sujeito indeterminado
b)
sujeito simples; sujeito composto; sujeito oculto
c)
sujeito composto; sujeito simples; sujeito indeterminado
d)
sujeito indeterminado; sujeito oculto; sujeito simples
e)
sujeito oculto; sujeito composto; sujeito simples
sábado, 31 de maio de 2025
QUE ALEGRIA!
Hoje tive a grata surpresa de reencontrar meu ex-eterno aluno José Maria Junior, que fez meu curso anos e atrás e agora, cursa seu último ano no IFMT. e ainda é irmão de nossa atual Ana Carolina!
Que felicidade ver que sua família aposta e acredita nos estudos!
E seu pai, José Maria, também foi meu companheiro de trabalho quando eu tinha 15 anos, na antiga oficina Cominsc.
Que história hein! Amo todos vocês!
MINHA EX-ETERNA ALUNA PAULA DE DEUS AUGUSTO
Esta é minha amada Paulinha, que fez meu curso em 2022, e assim como o Henrique, também foi aprovada em Agropecuária.
Ela
me mandou um depoimento muito lindo e resolvi compartilhar com vocês!
Linda
e competente! Amo!
segunda-feira, 26 de maio de 2025
PRÓXIMAS DATAS PARA PAGAMENTOS DE MENSALIDADES
Os alunos abaixo têm seu vencimento no próximo sábado, dia 31/05/25.
Amanda Yumi Tanaka de Castro |
Ana Julia Andrade de Amorim |
Ariane Gabriele Moura |
Barbara Adryanny Barbosa Cavalcante |
Emanuel Araújo Silva |
Emanuelle Beatriz Silva de Almeida |
Emili Balduino Ferreira |
Enzo Ferreira Costa Leite |
Felipe Marques da Silva |
Giovana Carreiro de Oliveira |
Guilherme Antonio Pedroso Pereira |
Guilherme Marques da Silva |
Heitor Gabriel Moreno Siqueira |
Helloyse Pinheiro Neto Cavalcante |
Isabelly Mariany Mendes Gurgel |
João Víctor Silva Sarkis Moor Santos |
Lais Leandro de Oliveira |
Leticia Said Pinheiro Queiroz |
Lívia Rafaele Gonçalves Lima |
Luiz Carlos Azevedo Costa Pereira Filho |
Luna Helena de Oliveira Pereira |
Luna Santos Jucá Corrêa Lima |
Matheus Silva Sarkis Moor Santos |
Saymon Pedroso de Oliveira |
Thaylla Fernanda Silva Rocha |
Yan Gabriel Firmino Rodrigues |
Yasmin Peixoto da Silva Cerqueira |
TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 31/05/25 – VALE 5,0%
Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para
realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Texto 01
O INCÊNDIO DE CADA
UM
Affonso Romano de
Sant'Anna
A cena foi
simples. Ia eu passando de carro pela Lagoa quando vi na calçada uma moça
esperando o ônibus com seu jeans e bolsa a tiracolo. Nada demais numa moça
esperando o ônibus. Mas eis que passou um caminhão de som tocando uma lambada.
Aí aconteceu. Aconteceu uma coisa quase imperceptível, mas aconteceu: os
quadris da moça começaram a se mexer num ritmo aliciante. Já não era a mesma
criatura antes estática, solitária, esperando o ônibus na calçada. Ela havia se
coberto de graça, algo nela se incendiara.
A fotógrafa veio
fazer umas fotos. Estava com o pescoço envolto num pano, pois tinha torcicolo.
E eu ali posando meio frio, fingindo naturalidade, e ela cautelosa com seu
pescoço meio duro, tirando uma foto aqui, outra ali, quase burocraticamente. De
repente, ela descobriu um ângulo, e pronto: se incendiou profissionalmente,
jogou-se no chão, clic daqui, clic dali, vira para cá, vira para lá, este
ângulo, aquele, enfim, desabrochou, o pescoço já não doía. Ela havia detonado
em si o que mais profundamente ela era.
Estamos numa
festa. Aquele bate-papo no meio daquelas comidinhas e bebidinhas. Mas de
repente alguém insiste para que outro toque violão. Aparentemente a contragosto
ele pega o instrumento. E começa a dedilhar. Pronto, virou outra pessoa.
Manifestou-se. Elevou-se acima dos demais, está além da banalidade de cada um.
Achou o seu lugar em si mesmo.
Assim também
ocorre quando vemos no palco o cantor dar seus agudos invejáveis, o bailarino
dar seus saltos ou o atleta no campo disparar seus músculos e fazer aquilo que
só ele pode fazer melhor que todos nós. Isto é o que ocorre quando o
instrumentista pega o sax e sexualiza todo o ambiente com seu som cavernoso e
erótico. Isto é o que se dá até quando um conferencista ou um professor
entreabre o seu discurso e põe-se como uma sereia a seduzir a plateia, como um
maestro seduz todo o teatro.
Há um momento de
sedução típico de cada um. Quando o indivíduo está assentado no que lhe é mais
próprio e natural. E isto encanta.
Claro, esses são
exemplos até esperados. Mas há outros modos de o corpo de uma pessoa
embandeirar-se como se tivesse achado o seu jeito único e melhor de ser. Digo,
o corpo e a alma.
Mas nem todos
podemos ser tão espetaculares. Nem por isso o pequeno acontecimento é menos
comovente.
De que estou
falando? De algo simples e igualmente comovente. Por exemplo: o jardineiro que
ao ser jardineiro é jardineiro como só o jardineiro sabe e pode ser.
E que ao falar das
flores, ao exibi-las cercadas de palavras, percebe-se, ele está em transe.
Igualmente o especialista em vinhos, que ao explicar os diversos sabores nos
quatro cantos da boca faz seus olhos verterem prazer e embalam a quem o ouve
com sua dionisíaca sabedoria.
Feita com amor,
até uma coleção de selos se magnifica. Se torna mais imponente que uma pirâmide
se a pirâmide for descrita ou feita por quem não a ama. É assim que pode entrar
pela sala alguém e servir um cafezinho, mas sendo aquele o cafezinho onde ela põe
sua alma, ela se torna de uma luminosidade invejável.
Cada um tem um momento, um gesto, um ato
em que se individualiza e brilha. Nisto nos parecemos com os animais e peixes
ou quem sabe com as nuvens. Animais e peixes têm isto: têm trejeitos raros e
sedutores, cada um segundo sua espécie. Até as nuvens, como eu dizia, tem seu
momento de glória.
Uma vez vi um
pintor em plena ação, pintando. Meu Deus! O homem era um incêndio só, uma
alucinação. Sua face vibrava, havia uma febre nos seus gestos. Era uma erupção
cromática, um assomo de formas e volumes.
Então é disso que
estou falando. Dessa coisa simples e única, quando o que cada um tem de mais
seu relampeja a olhos vistos. Quando isto se dá, quebra-se a monotonia e o
indivíduo se transcendentaliza.
Pode parecer
absurdo, mas já vi uma secretária transcendentalizar-se ao disparar seus dedos
no teclado da máquina de escrever. Era uma virtuose como só o melhor violinista
ou pianista sabem ser. E as pessoas achavam isto mais sensacional que se ela
estivesse engolindo fogo na esquina.
Isto é o que
importa: o incêndio de cada um. Cada qual deve ter um jeito de deflagrar sua
luz aprisionada. As flores fazem isto sem esforço. Igualmente os pássaros.
Todos têm seu momento de revelação. É aguardar, que o outro alguma hora vai se
manifestar.
(SANT’ANNA,
Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas.3.
ed. São Paulo,
Áttica, 1997. p. 86-9, “Para Gostar de Ler 16”)
01) No sexto parágrafo do texto, o
autor afirma: “Claro que são exemplos até esperados”. Dentre os exemplos,
citados nos parágrafos anteriores, NÃO podemos citar:
a) o da moça que esperava o ônibus;
b) o da fotógrafa, do maestro e do
bailarino
c) o do violinista e do atleta, do
conferencista
d) o do cantor e do saxofonista
e) todos acima
02) O que o cronista deseja
demonstrar com exemplos citados na alternativa anterior?
a) deseja provar que, num determinado
momento cada pessoa revela o que tem de melhor em si, encontra “seu jeito único
e melhor de ser.”;
b) deseja demonstrar que as diferenças
realmente existem, mas não são preponderantes nas relações;
c) deseja demonstrar que, aqueles que
estudam chegam ao seu objetivo mais rapidamente, em detrimento aos que não
possuem conhecimento.
d) deseja, de certa forma, demonstrar o
valor interior das pessoas que trabalham com pessoas.
e) deseja demonstrar que a vitória
pertence a todos aqueles que buscam superar seus limites.
03) Sobre o texto podemos afirmar
que:
a) O autor considera os exemplos da
questão 01 inesperados;
b) A comparação, um dos recursos que
empregamos frequentemente, com a finalidade de ressaltar nossas ideias, é vista
pelo autor através da relação feita entre o ser humano e animais, peixes,
nuvens, mares e pássaros
c) A cena que se narra no segundo
parágrafo faz supor que o cronista seja alguém comum, sem fama;
d) O fato de a fotógrafa ter ido até a
casa do cronista para fotografá-lo provavelmente para alguma reportagem de
Jornal ou revista, revela sua identidade.
e) Para escrever sua crônica o autor
partiu de fatos excepcionais.
Texto 02
O BOI DE GUIA
Cora Coralina
O menino tinha
nascido e se criado em Ituverava, da banda de Minas. O pai era um carreiro de
confiança, muito procurado para serviços e colheitas. Tinha seu carro antigo,
de boa mesa rejuntada, fueirama firme, esteirado de couro cru, roda maciça de
cabiúna ferrada, bem provido o berrante de azeite e com seu eixo de cocão
cantador que a gente ouvia com distância de légua. Desses que antigamente
alegravam o sertão e que os moradores, ouvindo o rechinado, davam logo a pinta
do carreiro.
O
pai tinha o carro e tinha as juntas redobradas em parelhas certas, caprichadas,
bois arados, retacos, manteúdos, de grandes aspas e pelagem limpa. Era só que
possuía. O canto empastado onde morava, família grande, meninada se formando e
sua ferramenta de trabalho – os bois de carro.
Trabalhava
para os fazendeiros de roda, principalmente na colheita de café e mantimentos,
meses a fio, enchendo tulhas e paióis vazios. Quando acabava o café, era a
cana, do canavial para os engenhos, onde as tachas ferviam noite e dia e
purgavam as grandes formas de açúcar, cobertas de barro.
O
candeeiro era ele, pirralho franzino, esmirrado, de cinco anos.
Os
pais antigos eram duros e criavam os filhos na lei da disciplina. Na roça,
criança não tinha infância. Firmava-se nas pernas, entendia algum mandado, já
tinha servicinho esperando.
Aos
quatro anos montava em pelo, cabresteava potranquinha, trazia bezerro do pasto,
levava leite na cidade e entregava na freguesia.
Era
botado em riba do selote, não alcançava estribo. Se descesse, não subia mais.
Punha o litro nas janelas.
O
cavalo em que montava era velho, arrasado manso e sabido. Subia nas calçadas,
encostava nos alpendres, conhecia as ruas, desviava-se das buzinas e parava
certo nos fregueses.
Quando
de volta, recolhendo a garrafa vazia, gritava desesperadamente:
-
Garrafa do leite...garrafa vaziiia! ...
Um
da casa, atordoado com a gritaria, se apressava logo a entregar o litro
requerido.
Ajudava
o pai. Desde que nasceu, contava ele. Nunca se lembra de ter vadiado como os
meninos de agora. Quando começou a entender o pai, a mãe, os irmãos, o cachorro
e o mundo do terreiro, já foi fazendo servicinho. Catava lenha fina,
garrancheira para o fogão, caçava pela saroba os ninhos das botadeiras, ia
atrás dos peruzinhos e já quebrava xerém às chocas de pinto. Do pasto trazia os
bois de serviço. Seu gosto era vir pendurado no chifre do guia barroso – tão
grande, tão forte, tão manso – sempre remoendo seus bolos de capim, nem
percebia, também não se importava, não dava mostras.
Acostumou-se
com os bois e os bois com ele. Sabia o nome de todos e os particulares de cada
um. Chamava pra mangueira. O pai erguia os braços possantes e passava as grande
cangas lustrosas; encorreiava os canzis debaixo das barbelas, enganchava o
cambão, encostava o coice, prendia a cambota. Passava mão na vara, chamava. As
argolinhas retiniam e o carro com sua boiada arrancavam o caminho das roças.
Com
cinco anos, era mestre-de-guia, com sua varinha argolada.
Às
vezes, o serviço era dentro de roças novas, de primeira derrubada, cheia e
tocos, tranqueirada de paulama, mal-encoivaradas, ainda mais com seus muitos
buracos de tatu.
O
carreador, mal-amanhado, só dava o tantinho das rodas. Os bois que aguentassem
o repuxado, e o menino, esse, ninguém reparava nele. Aí era que o carro vinha
de caculo. A colheita no meio da roça. Chuvas se encordoando de norte a sul
ameaçando o ar do tempo mudado e o fazendeiro arrochando pressa.
A
boiada tinha de romper a pulso. O aguilheiro na frente, pequeno, descalço, seu
chapeuzinho de palha, seu porte franzino, dando o que tinha.
Sentia
nas costas o bafo quente do guia. Sentia no pano da camisa a baba grossa do
boi. O pai atrás, gritando os nomes, sacudindo o ferrão. A boiada, briosa e
traquejada, não queria ferrão no couro, a criança atrapalhava. Aí, o guia
barroso dava um meneio de cabeça, baixava a aspa possante e passava a criança
pra um lado.
O
menino tornava à frente. Outra vez a baba do boi na camisa, o grito do carreiro
afobado, o tinido das argolinhas e a grande aspa passando a criança pra um
lado.
O
pai gritou frenisado:
-
Quem já viu aguiero chamá boi de banda...Passa pra frente porquera...
-
Nhô pai, é o boi que me arreda...
-
Passa pra frente, covarde. Deixa de invenção, inzoneiro...
O
menino enfrentou de novo. O homem sacudiu a vara e pondo reparo. A argola
retiniu, as juntas arrancaram. O barroso alcançou a criança. Ia pisar, ia
esmagar com sua pata enorme e pesada.
Não
pisou, não esmagou. Virou o guampaço num jeito e passou a criança pra um lado
sem magoar. Aí o velho carreiro viu...viu o boi pela primeira vez...
Sentiu
uma gastura e pela primeira vez uma coisa nova inchando seu coração no peito e
a limpou uma turvação da vista na manga da camisa.
Cora Coralina.
Estórias da casa velha da ponte. 2. ed. São Paulo: Global, 1988.
04) Em relação ao texto, é
incorreto afirmar que:
a) O narrador utiliza os primeiros
parágrafos do texto quase exclusivamente para descrever o carro de bois.
b) O carro de bois é muito importante para
história pois se trata da ferramenta de trabalho do pai do menino.
c) No segundo parágrafo, descrevem-se os
bois que conduzem o carro.
d) O menino precisava ser colocado em cima
da sela do cavalo, porque não conseguia montar sozinho.
e) nra
05) Quando se cavalga, o
cavaleiro é o condutor. Essa afirmativa...
a) é válida e justificada pelo texto;
b) é válida, apesar de não ser justificada
pelo texto;
c) não é validada pelo texto, pois se
trata de carros de bois;
d) não é validada pelo texto pois na
narrativa o menino era o condutor, mesmo que pequeno de um carro de bois;
e) não é validada pelo texto pois nesse
caso o verdadeiro condutor é o cavalo, que conhece o trajeto, para sobre as
calçadas, desvia de buzinas e sabe onde ficam as casas dos fregueses.
06) “Na roça então criança não
tinha infância”. Sobre este trecho do texto pode-se afirmar que:
a) As crianças na roça, crescem muito
rápido, não aproveitando sua infância;
b) Crianças na roça adquirem maturidade
muito rapidamente, devido aos seus estudos;
c) Morar com os pais, muitas vezes, nos
fazem não aproveitar a infância;
d) Na roça, devido ao excesso de pessoas
adultas, quase não se vê infantis;
e) As crianças tinham pouca Liberdade
obedeciam cegamente os pais e tinham de ajudar no trabalho.
07) Qual passagem demonstra que o
pai, finalmente acreditou na história que seu filho contava?
a) Os bois que aguentassem o repuxado, e o
menino, esse, ninguém reparava nele.
b) Outra vez a baba do boi na camisa, o
grito do carreiro afobado, o tinido das argolinhas e a grande aspa passando a
criança pra um lado.
c) - Quem já viu aguiero chamá boi de
banda...Passa pra frente porquera...
d) Não pisou, não esmagou. Virou o
guampaço num jeito e passou a criança pra um lado sem magoar.
e) O homem sacudiu a vara e pondo reparo.
A argola retiniu, as juntas arrancaram.