quarta-feira, 4 de junho de 2025

 


PRÓXIMAS DATAS PARA PAGAMENTOS DE MENSALIDADES

Os alunos abaixo têm seu vencimento no próximo sábado, dia 07/06/25.

 

Agatha Emanuelly da Rocha

Anelise Arruda Belmonte

Annelize de Paula Silva Amorim

Blenda Karoliny de Almeida Rodrigues

Bruno Cori Cortez Acioli

Carion Vinicius Siqueira de Souza

Edgar Platyon de Souza Paes

Gabriel Graffitti Lara

Helloyse Pinheiro Neto Cavalcante *

Luiza Nascimento Otoni

Maria Eduarda Ferretti da Rosa

Mariana Miranda Pupin

Pedro Henrique Alves de Oliveira Silva

Quenã Alexandre Novais 

Sarah Menna Barreto Ferreira

 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 07/06/25 – VALE 10,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

 

Texto 01

 

O arquivo

Victor Giudice

 

No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos.

         Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

joão transformou-se num arquivo de metal.

 


01) A Ironia consiste em dizer o contrário do que se pensa, mas dando a entender o que realmente se pensa, é empregada num texto como recurso para criticar determinada pessoa ou determinada situação. Qual dos termos abaixo, retirados do texto não representa ironia?

a) Recompensa

b) contentamento

c) reconhecimento

d) objetivos

e) emoção

 

02) O nome da personagem aparece grafado com inicial maiúscula, apenas no primeiro parágrafo do texto. No restante da narrativa parece com inicial minúscula. Sobre isso aponte a alternativa correta:

a) Essa maneira de escrever não constitui uma infração de ortografia;

b) A liberdade textual permite que o autor, em qualquer tipo de texto, reduza a letra inicial do nome tornando-o um substantivo comum;

c) A intenção do autor, ao infringir propositalmente a gramática, provavelmente seria mostrar a transformação de João numa coisa, num ser inanimado, já que substantivos comuns se grafam com letra inicial minúscula;

d) João é um substantivo que pode ser comum e próprio ao mesmo tempo na língua portuguesa;

e) nra

 

03) Ainda sobre o texto é falsa a alternativa...

a) A situação ironizada pelo autor é a situação do trabalhador, que por mais que se esforce, ganha cada vez menos e acaba perdendo a dignidade;

b) O clímax da gradação apresentada no texto sobre a carreira de João, seria o corte total do salário e a nova função: faxineiro de sanitários;

c) No desfecho do conto João transforma-se num arquivo;

d) O desfecho do texto mostra a desumanização de João, ou seja, do trabalhador mal remunerado;

e) Sobre moradia, o texto mostra que João muda-se para locais cada vez mais pobres, porém perto do seu trabalho, até ficar no relento.

 

04) Em qual das alternativas abaixo o sujeito é Inexistente?

a) Finalmente, deixara de jantar.

b) O almoço reduzira-se a um sanduíche.

c) Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil.

d) Não havia necessidade de muita roupa.

e) Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

 

05) Em todas as alternativas abaixo o sujeito é Oculto, com exceção da alternativa...

a) No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade.

b) Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

c) Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho.

d) No entanto, estava satisfeito.

e) Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

 

 

Texto 02

 

MOÇA DEITADA NA GRAMA

Carlos Drummond de Andrade

 

A moça estava deitada na grama.

Eu vi e achei lindo. Fiquei repetindo para meu deleite pessoal: “Moça deitada na grama. Deitada na grama. Na grama”. Pois o espetáculo me embevecia. Não é qualquer coisa que me embevece, a esta altura da vida. A moça, o estar deitada na grama, àquela hora da tarde, enquanto os carros passavam e cada ocupante ia ao seu compromisso, à sua alegria ou à sua amargura, a moça e sua posição me embeveceram.

Não tinha nada de exibicionista, era a própria descontração, o encontro do corpo com a tranquilidade, fruída em estado de pureza. Quem quisesse reparar, reparasse; não estava ligando nem desafiando costumes nem nada. Simplesmente deitada na grama, olhos cerrados, mãos na testa, vestido azul, sapatos brancos, pulseira, dois anéis, elegante, composta. De pernas, mostrava o normal. Não era imagem erótica.

Dormia? Não. Pequenos movimentos indicavam que permanecia consciente, mas eram tão pequenos que se percebia seu bem-estar inalterável, sua intenção de continuar assim à sombra dos edifícios, no gramado.

Resolvi parar um pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça, plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de ser imóvel. E que arfava docemente. Ah, o arfar da moça, que lhe erguia com leveza o busto, lembrando o sangue de circular nas artérias silenciosas, tão vivo; e tão calmo, como se também ele quisesse descansar na grama, curtir para sempre aquele instante de felicidade.

Eis se aproxima um guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. De leve. Ela abre os olhos, sorri bem-disposta:

– Quer deitar também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:

– Não, moça… me desculpe. É o seguinte. A senhora… quer fazer o favor de levantar?

– Levantar por quê? Está tão bom aqui.

– A senhora não pode ficar aí assim não. Levante, estou lhe pedindo.

– Por que hei de levantar? Minha posição é cômoda, eu estou bem aqui. Olhe ali adiante aquele homem, ele também está deitado na grama.

– Aquele homem é diferente, a senhora não percebe?

– Percebo que é homem, e daí? Homem pode, mulher não?

– Bom, poder ninguém pode, é proibido, mas sendo homem, além disso mindingo…

– Ah, compreendo agora. Sendo homem e mindingo, tem direito a deitar no gramado, mas sendo mulher, tendo profissão liberal, pagando imposto de renda, predial, lixo, sindicato, etc., nada feito. É isso que o senhor quer dizer?

– Deus me livre, moça. Quem sou eu para dizer uma coisa dessas? Só que é a primeira vez, e eu tenho dez anos de serviço, que vejo uma dona como a senhora, bem-vestida, bem-apessoada, assim espichada na grama. Com a devida licença, achei que não ficava bem imitar os homens, os mindingos, que a gente tem pena e deixa por aí…

– Faça de conta que eu também sou mindinga – e a moça abriu para ele um sorriso especial.

– Para o bem da senhora, não convém se arriscar desse jeito.

– Eu acho que não estou me arriscando nada, pois tem o senhor aí me garantindo.

– Obrigado. Eu garanto até certo ponto, mas basta a gente virar as costas, vem aí um elemento e furta o seu reloginho, a sua bolsa, as suas coisas.

– Sei me defender, meu santo. Tenho o meu cursinho de caratê.

– Tá certo, mas não deve de facilitar. A senhora se levante, em nome da lei.

– Espere aí. Ou todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade.

– Essa lei eu não conheço, dona. Não posso conhecer todas as leis. Essa que a senhora fala, eu acho que não pegou.

– Mas deve pegar. É preciso que pegue, mais cedo ou mais tarde.

– Não vai levantar?

– Não.

Ele coçou a cabeça. Agarrar a moça era violência, ela ia reagir, juntava povo, criava caso. Afinal, não estava fazendo nada de imoral nem subversivo. Por outro lado, não pegava bem moça deitada na grama – ele devia ter na mente a idéia de moça vestida de gaze, aérea, meio arcanjo, nunca deitável no chão de grama, como qualquer vagabundo fedorento.

– A senhora não devia me fazer uma coisa dessas.

– Fazer o quê?

– Me expor nesta situação.

– Eu não fiz nada, estava numa boa oriental, o senhor chega e…

– É muito difícil lidar com mulheres, elas têm resposta para tudo.

– Vamos fazer uma coisa. O senhor faz que não me viu, vai andando, eu saio daqui a pouco. Só mais dez minutos, para não parecer que estou cedendo a um ato de força.

– Pode ficar o tempo que quiser – decidiu ele. – A senhora falou numa tal lei da igualdade, então vamos cumprir. Só que aquele malandro ali adiante tem de se mandar urgente, eu vou lá dar um susto nele, já gozou demais da lei da igualdade, agora chega!

 


06) A frase “Não é qualquer coisa que me embevece a essa altura da vida” mostra que:

a) O cronista já não era jovem

b) O cronista não tinha medo da morte

c) O cronista teme a morte como qualquer outro ser humano

d) O cronista compadece da situação da moça

e) nra

 

07) Sobre o texto é correto afirmar que:

a) A moça deitada na grama compõem uma cena que transmitia tranquilidade, calma e descontração

b) A chegada de um guarda não perturbou a tranquilidade da Moça

c) O convite que a moça faz ao Guarda para aproveitar a tarde gostosa, a fala dela e sua capacidade de argumentar, deixa o mais seguro de si

d) O sinal de pontuação que revela na resposta do guarda que ele ficou encabulado, é o ponto de exclamação

e) A moça em momento algum se acha no direito de desobedecer ao guarda

 

08) Sobre o texto é incorreto afirmar que

a) Ao dizer que o outro além de ser homem era mendigo, o guarda contra-argumenta a moça

b) Ao comparar a atitude da moça quando mendigo, o guarda leva em conta a diferença de sexo e a situação social de cada um

c) Ao dizer “A senhora se levante em nome da lei.” o contra-argumento utilizado pela moça é, “ou todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade”

d) A moça quis sair um pouco depois do guarda para não parecer que está cedendo a um ato de força

e) nra

 

09) Em qual das alternativas abaixo, o termo “moça” aparece como núcleo do sujeito?

a) ...a moça e sua posição me embeveceram.

b) – Deus me livre, moça.

c) ...e a moça abriu para ele um sorriso especial.

d) Agarrar a moça era violência, ...

e) Por outro lado, não pegava bem moça deitada na grama – ...

 

10) Leia as orações abaixo e assinale a alternativa que identifica corretamente os sujeitos:

I. Meias e sapatos estão em promoção naquela loja.

II. Garoou muito em São Paulo nos últimos dias.

III. Aluga-se esta casa.

a) sujeito composto; sujeito inexistente; sujeito indeterminado

b) sujeito simples; sujeito composto; sujeito oculto

c) sujeito composto; sujeito simples; sujeito indeterminado

d) sujeito indeterminado; sujeito oculto; sujeito simples

e) sujeito oculto; sujeito composto; sujeito simples

 


sábado, 31 de maio de 2025

💚💚




QUE ALEGRIA!

Hoje tive a grata surpresa de reencontrar meu ex-eterno aluno José Maria Junior, que fez meu curso anos e atrás e agora, cursa seu último ano no IFMT. e ainda é irmão de nossa atual Ana Carolina!


Que felicidade ver que sua família aposta e acredita nos estudos!

E seu pai, José Maria, também foi meu companheiro de trabalho quando eu tinha 15 anos, na antiga oficina Cominsc.

Que história hein! Amo todos vocês!


MINHA EX-ETERNA ALUNA PAULA DE DEUS AUGUSTO

Esta é minha amada Paulinha, que fez meu curso em 2022, e assim como o Henrique, também foi aprovada em Agropecuária.

Ela me mandou um depoimento muito lindo e resolvi compartilhar com vocês!

Linda e competente! Amo!





segunda-feira, 26 de maio de 2025

 


PRÓXIMAS DATAS PARA PAGAMENTOS DE MENSALIDADES

Os alunos abaixo têm seu vencimento no próximo sábado, dia 31/05/25.

 

Amanda Yumi Tanaka de Castro

Ana Julia Andrade de Amorim

Ariane Gabriele Moura

Barbara Adryanny Barbosa Cavalcante

Emanuel Araújo Silva

Emanuelle Beatriz Silva de Almeida

Emili Balduino Ferreira

Enzo Ferreira Costa Leite

Felipe Marques da Silva

Giovana Carreiro de Oliveira

Guilherme Antonio Pedroso Pereira

Guilherme Marques da Silva

Heitor Gabriel Moreno Siqueira

Helloyse Pinheiro Neto Cavalcante

Isabelly Mariany Mendes Gurgel

João Víctor Silva Sarkis Moor Santos

Lais Leandro de Oliveira

Leticia Said Pinheiro Queiroz

Lívia Rafaele Gonçalves Lima

Luiz Carlos Azevedo Costa Pereira Filho

Luna Helena de Oliveira Pereira

Luna Santos Jucá Corrêa Lima

Matheus Silva Sarkis Moor Santos

Saymon Pedroso de Oliveira

Thaylla Fernanda Silva Rocha

Yan Gabriel Firmino Rodrigues

Yasmin Peixoto da Silva Cerqueira

 

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 31/05/25 – VALE 5,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

 

Texto 01

 

O INCÊNDIO DE CADA UM

Affonso Romano de Sant'Anna

 

A cena foi simples. Ia eu passando de carro pela Lagoa quando vi na calçada uma moça esperando o ônibus com seu jeans e bolsa a tiracolo. Nada demais numa moça esperando o ônibus. Mas eis que passou um caminhão de som tocando uma lambada. Aí aconteceu. Aconteceu uma coisa quase imperceptível, mas aconteceu: os quadris da moça começaram a se mexer num ritmo aliciante. Já não era a mesma criatura antes estática, solitária, esperando o ônibus na calçada. Ela havia se coberto de graça, algo nela se incendiara.

A fotógrafa veio fazer umas fotos. Estava com o pescoço envolto num pano, pois tinha torcicolo. E eu ali posando meio frio, fingindo naturalidade, e ela cautelosa com seu pescoço meio duro, tirando uma foto aqui, outra ali, quase burocraticamente. De repente, ela descobriu um ângulo, e pronto: se incendiou profissionalmente, jogou-se no chão, clic daqui, clic dali, vira para cá, vira para lá, este ângulo, aquele, enfim, desabrochou, o pescoço já não doía. Ela havia detonado em si o que mais profundamente ela era.

Estamos numa festa. Aquele bate-papo no meio daquelas comidinhas e bebidinhas. Mas de repente alguém insiste para que outro toque violão. Aparentemente a contragosto ele pega o instrumento. E começa a dedilhar. Pronto, virou outra pessoa. Manifestou-se. Elevou-se acima dos demais, está além da banalidade de cada um. Achou o seu lugar em si mesmo.

Assim também ocorre quando vemos no palco o cantor dar seus agudos invejáveis, o bailarino dar seus saltos ou o atleta no campo disparar seus músculos e fazer aquilo que só ele pode fazer melhor que todos nós. Isto é o que ocorre quando o instrumentista pega o sax e sexualiza todo o ambiente com seu som cavernoso e erótico. Isto é o que se dá até quando um conferencista ou um professor entreabre o seu discurso e põe-se como uma sereia a seduzir a plateia, como um maestro seduz todo o teatro.

Há um momento de sedução típico de cada um. Quando o indivíduo está assentado no que lhe é mais próprio e natural. E isto encanta.

Claro, esses são exemplos até esperados. Mas há outros modos de o corpo de uma pessoa embandeirar-se como se tivesse achado o seu jeito único e melhor de ser. Digo, o corpo e a alma.

Mas nem todos podemos ser tão espetaculares. Nem por isso o pequeno acontecimento é menos comovente.

De que estou falando? De algo simples e igualmente comovente. Por exemplo: o jardineiro que ao ser jardineiro é jardineiro como só o jardineiro sabe e pode ser.

E que ao falar das flores, ao exibi-las cercadas de palavras, percebe-se, ele está em transe. Igualmente o especialista em vinhos, que ao explicar os diversos sabores nos quatro cantos da boca faz seus olhos verterem prazer e embalam a quem o ouve com sua dionisíaca sabedoria.

Feita com amor, até uma coleção de selos se magnifica. Se torna mais imponente que uma pirâmide se a pirâmide for descrita ou feita por quem não a ama. É assim que pode entrar pela sala alguém e servir um cafezinho, mas sendo aquele o cafezinho onde ela põe sua alma, ela se torna de uma luminosidade invejável.

Cada um tem um momento, um gesto, um ato em que se individualiza e brilha. Nisto nos parecemos com os animais e peixes ou quem sabe com as nuvens. Animais e peixes têm isto: têm trejeitos raros e sedutores, cada um segundo sua espécie. Até as nuvens, como eu dizia, tem seu momento de glória.

Uma vez vi um pintor em plena ação, pintando. Meu Deus! O homem era um incêndio só, uma alucinação. Sua face vibrava, havia uma febre nos seus gestos. Era uma erupção cromática, um assomo de formas e volumes.

Então é disso que estou falando. Dessa coisa simples e única, quando o que cada um tem de mais seu relampeja a olhos vistos. Quando isto se dá, quebra-se a monotonia e o indivíduo se transcendentaliza.

Pode parecer absurdo, mas já vi uma secretária transcendentalizar-se ao disparar seus dedos no teclado da máquina de escrever. Era uma virtuose como só o melhor violinista ou pianista sabem ser. E as pessoas achavam isto mais sensacional que se ela estivesse engolindo fogo na esquina.

Isto é o que importa: o incêndio de cada um. Cada qual deve ter um jeito de deflagrar sua luz aprisionada. As flores fazem isto sem esforço. Igualmente os pássaros. Todos têm seu momento de revelação. É aguardar, que o outro alguma hora vai se manifestar.

 

(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas.3.

ed. São Paulo, Áttica, 1997. p. 86-9, “Para Gostar de Ler 16”)

 

01) No sexto parágrafo do texto, o autor afirma: “Claro que são exemplos até esperados”. Dentre os exemplos, citados nos parágrafos anteriores, NÃO podemos citar:

a) o da moça que esperava o ônibus;

b) o da fotógrafa, do maestro e do bailarino

c) o do violinista e do atleta, do conferencista

d) o do cantor e do saxofonista

e) todos acima

 

02) O que o cronista deseja demonstrar com exemplos citados na alternativa anterior?

a) deseja provar que, num determinado momento cada pessoa revela o que tem de melhor em si, encontra “seu jeito único e melhor de ser.”;

b) deseja demonstrar que as diferenças realmente existem, mas não são preponderantes nas relações;

c) deseja demonstrar que, aqueles que estudam chegam ao seu objetivo mais rapidamente, em detrimento aos que não possuem conhecimento.

d) deseja, de certa forma, demonstrar o valor interior das pessoas que trabalham com pessoas.

e) deseja demonstrar que a vitória pertence a todos aqueles que buscam superar seus limites.

 

03) Sobre o texto podemos afirmar que:

a) O autor considera os exemplos da questão 01 inesperados;

b) A comparação, um dos recursos que empregamos frequentemente, com a finalidade de ressaltar nossas ideias, é vista pelo autor através da relação feita entre o ser humano e animais, peixes, nuvens, mares e pássaros

c) A cena que se narra no segundo parágrafo faz supor que o cronista seja alguém comum, sem fama;

d) O fato de a fotógrafa ter ido até a casa do cronista para fotografá-lo provavelmente para alguma reportagem de Jornal ou revista, revela sua identidade.

e) Para escrever sua crônica o autor partiu de fatos excepcionais.

 

Texto 02

 

O BOI DE GUIA

Cora Coralina

 

O menino tinha nascido e se criado em Ituverava, da banda de Minas. O pai era um carreiro de confiança, muito procurado para serviços e colheitas. Tinha seu carro antigo, de boa mesa rejuntada, fueirama firme, esteirado de couro cru, roda maciça de cabiúna ferrada, bem provido o berrante de azeite e com seu eixo de cocão cantador que a gente ouvia com distância de légua. Desses que antigamente alegravam o sertão e que os moradores, ouvindo o rechinado, davam logo a pinta do carreiro.

        O pai tinha o carro e tinha as juntas redobradas em parelhas certas, caprichadas, bois arados, retacos, manteúdos, de grandes aspas e pelagem limpa. Era só que possuía. O canto empastado onde morava, família grande, meninada se formando e sua ferramenta de trabalho – os bois de carro.

        Trabalhava para os fazendeiros de roda, principalmente na colheita de café e mantimentos, meses a fio, enchendo tulhas e paióis vazios. Quando acabava o café, era a cana, do canavial para os engenhos, onde as tachas ferviam noite e dia e purgavam as grandes formas de açúcar, cobertas de barro.

        O candeeiro era ele, pirralho franzino, esmirrado, de cinco anos.

        Os pais antigos eram duros e criavam os filhos na lei da disciplina. Na roça, criança não tinha infância. Firmava-se nas pernas, entendia algum mandado, já tinha servicinho esperando.

        Aos quatro anos montava em pelo, cabresteava potranquinha, trazia bezerro do pasto, levava leite na cidade e entregava na freguesia.

        Era botado em riba do selote, não alcançava estribo. Se descesse, não subia mais. Punha o litro nas janelas.

        O cavalo em que montava era velho, arrasado manso e sabido. Subia nas calçadas, encostava nos alpendres, conhecia as ruas, desviava-se das buzinas e parava certo nos fregueses.

         Quando de volta, recolhendo a garrafa vazia, gritava desesperadamente:

        - Garrafa do leite...garrafa vaziiia! ...

        Um da casa, atordoado com a gritaria, se apressava logo a entregar o litro requerido.

        Ajudava o pai. Desde que nasceu, contava ele. Nunca se lembra de ter vadiado como os meninos de agora. Quando começou a entender o pai, a mãe, os irmãos, o cachorro e o mundo do terreiro, já foi fazendo servicinho. Catava lenha fina, garrancheira para o fogão, caçava pela saroba os ninhos das botadeiras, ia atrás dos peruzinhos e já quebrava xerém às chocas de pinto. Do pasto trazia os bois de serviço. Seu gosto era vir pendurado no chifre do guia barroso – tão grande, tão forte, tão manso – sempre remoendo seus bolos de capim, nem percebia, também não se importava, não dava mostras.

        Acostumou-se com os bois e os bois com ele. Sabia o nome de todos e os particulares de cada um. Chamava pra mangueira. O pai erguia os braços possantes e passava as grande cangas lustrosas; encorreiava os canzis debaixo das barbelas, enganchava o cambão, encostava o coice, prendia a cambota. Passava mão na vara, chamava. As argolinhas retiniam e o carro com sua boiada arrancavam o caminho das roças.

        Com cinco anos, era mestre-de-guia, com sua varinha argolada.

        Às vezes, o serviço era dentro de roças novas, de primeira derrubada, cheia e tocos, tranqueirada de paulama, mal-encoivaradas, ainda mais com seus muitos buracos de tatu.

        O carreador, mal-amanhado, só dava o tantinho das rodas. Os bois que aguentassem o repuxado, e o menino, esse, ninguém reparava nele. Aí era que o carro vinha de caculo. A colheita no meio da roça. Chuvas se encordoando de norte a sul ameaçando o ar do tempo mudado e o fazendeiro arrochando pressa.

        A boiada tinha de romper a pulso. O aguilheiro na frente, pequeno, descalço, seu chapeuzinho de palha, seu porte franzino, dando o que tinha.

        Sentia nas costas o bafo quente do guia. Sentia no pano da camisa a baba grossa do boi. O pai atrás, gritando os nomes, sacudindo o ferrão. A boiada, briosa e traquejada, não queria ferrão no couro, a criança atrapalhava. Aí, o guia barroso dava um meneio de cabeça, baixava a aspa possante e passava a criança pra um lado.

        O menino tornava à frente. Outra vez a baba do boi na camisa, o grito do carreiro afobado, o tinido das argolinhas e a grande aspa passando a criança pra um lado.

        O pai gritou frenisado:

        - Quem já viu aguiero chamá boi de banda...Passa pra frente porquera...

        - Nhô pai, é o boi que me arreda...

        - Passa pra frente, covarde. Deixa de invenção, inzoneiro...

        O menino enfrentou de novo. O homem sacudiu a vara e pondo reparo. A argola retiniu, as juntas arrancaram. O barroso alcançou a criança. Ia pisar, ia esmagar com sua pata enorme e pesada.

        Não pisou, não esmagou. Virou o guampaço num jeito e passou a criança pra um lado sem magoar. Aí o velho carreiro viu...viu o boi pela primeira vez...

        Sentiu uma gastura e pela primeira vez uma coisa nova inchando seu coração no peito e a limpou uma turvação da vista na manga da camisa.

 

Cora Coralina. Estórias da casa velha da ponte. 2. ed. São Paulo: Global, 1988.

  

04) Em relação ao texto, é incorreto afirmar que:

a) O narrador utiliza os primeiros parágrafos do texto quase exclusivamente para descrever o carro de bois.

b) O carro de bois é muito importante para história pois se trata da ferramenta de trabalho do pai do menino.

c) No segundo parágrafo, descrevem-se os bois que conduzem o carro.

d) O menino precisava ser colocado em cima da sela do cavalo, porque não conseguia montar sozinho.

e) nra

 

05) Quando se cavalga, o cavaleiro é o condutor. Essa afirmativa...

a) é válida e justificada pelo texto;

b) é válida, apesar de não ser justificada pelo texto;

c) não é validada pelo texto, pois se trata de carros de bois;

d) não é validada pelo texto pois na narrativa o menino era o condutor, mesmo que pequeno de um carro de bois;

e) não é validada pelo texto pois nesse caso o verdadeiro condutor é o cavalo, que conhece o trajeto, para sobre as calçadas, desvia de buzinas e sabe onde ficam as casas dos fregueses.

 

06) “Na roça então criança não tinha infância”. Sobre este trecho do texto pode-se afirmar que:

a) As crianças na roça, crescem muito rápido, não aproveitando sua infância;

b) Crianças na roça adquirem maturidade muito rapidamente, devido aos seus estudos;

c) Morar com os pais, muitas vezes, nos fazem não aproveitar a infância;

d) Na roça, devido ao excesso de pessoas adultas, quase não se vê infantis;

e) As crianças tinham pouca Liberdade obedeciam cegamente os pais e tinham de ajudar no trabalho.

 

07) Qual passagem demonstra que o pai, finalmente acreditou na história que seu filho contava?

a) Os bois que aguentassem o repuxado, e o menino, esse, ninguém reparava nele.

b) Outra vez a baba do boi na camisa, o grito do carreiro afobado, o tinido das argolinhas e a grande aspa passando a criança pra um lado.

c) - Quem já viu aguiero chamá boi de banda...Passa pra frente porquera...

d) Não pisou, não esmagou. Virou o guampaço num jeito e passou a criança pra um lado sem magoar.

e) O homem sacudiu a vara e pondo reparo. A argola retiniu, as juntas arrancaram.