Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de forma
correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Texto 01
COMUNICAÇÃO
Luís Fernando Veríssimo
É importante saber o nome
das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se
entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?
- Posso ajudá-lo,
cavalheiro?
- Pode. Eu quero um
daqueles, daqueles...
- Pois não?
- Um... como é mesmo o nome?
- Sim?
- Pomba! Um... um... Que
cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples,
conhecidíssima.
- Sim senhor.
- O senhor vai dar risada
quando souber.
- Sim senhor.
- Olha, é pontuda, certo?
- O quê, cavalheiro?
- Isso que eu quero. Tem
uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto
de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem
outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é
que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte
que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que
fecha. Entende?
- Infelizmente,
cavalheiro...
- Ora, você sabe do que eu
estou falando.
- Estou me esforçando,
mas...
- Escuta. Acho que não
podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?
- Se o senhor diz,
cavalheiro.
- Como, se eu digo? Isso já
é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa,
isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.
- Sim senhor. Pontudo numa
ponta.
- Isso. Eu sabia que você
compreenderia. Tem?
- Bom, eu preciso saber
mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor
desenha para nós?
- Não. Eu não sei desenhar
nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.
- Sinto muito.
- Não precisa sentir. Sou
técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não
sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas
fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum
problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que
fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.
- Eu não estou pensando
nada, cavalheiro.
- Chame o gerente.
- Não será preciso,
cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o
senhor quer, é feito do quê?
- É de, sei lá. De metal.
- Muito bem. De metal. Ela
se move?
- Bem... É mais ou menos
assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na
ponta, assim.
- Tem mais de uma peça? Já
vem montado?
- É inteiriço. Tenho quase
certeza de que é inteiriço.
- Francamente...
- Mas é simples! Uma coisa
simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta
e clique, encaixa.
- Ah, tem clique. É
elétrico.
- Não! Clique, que eu digo,
é o barulho de encaixar.
- Já sei!
- Ótimo!
- O senhor quer uma antena
externa de televisão.
- Não! Escuta aqui. Vamos
tentar de novo...
- Tentemos por outro lado.
Para o que serve?
- Serve assim para prender.
Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui,
encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.
- Certo. Esse instrumento
que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de
segurança e...
- Mas é isso! É isso! Um
alfinete de segurança!
- Mas do jeito que o senhor
descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!
- É que eu sou meio
expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome?
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comunicação In: Amor Brasileiro.
Rio de Janeiro, José Olympio, 1977. P.143-5
01) Sobre o texto, pode-se afirmar que:
a) O assunto do texto não contradiz seu
título;
b) O assunto do texto é a dificuldade de
comunicação por parte do comprador:
c) Há um desencontro de informações
provocado pelo comprador;
d) O vendedor tem dificuldade de entender
o comprador;
e) nra
02) Ainda sobre o texto, é incorreto
afirmar que:
a) Há uma diferença no nível de linguagem
entre os dois personagens
b) O vendedor usa uma linguagem mais
formal.
c) Quem possui uma linguagem menos culta é
o comprador
d) O comprador usa de gírias em suas falas.
e) O comprador usa palavras claras e
precisas como “coisa” e “negócio”.
03) Podemos afirmar que tanto o vendedor
quanto o comprador não sabiam o gênero a que pertencia o objeto. Que falas
deixam isso BEM CLARO?
a) “...de sorte que o, a, o negócio,
entende, fica fechado.” / “Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa.”
b) “- Ah, tem clique. É elétrico.” / “- Já
sei!”
c) “- O senhor quer uma antena externa de
televisão.” / “- Serve assim para prender. Entende?”
d) “- Não! Escuta aqui. Vamos tentar de
novo...” / “- Certo. Esse instrumentos que o senhor procura funciona mais ou
menos como um gigantesco alfinete de segurança e...”
e) nra
04) Observe:
“ – [ ... ] O desenho não me faz
falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais complicados,
claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um
débil mental, como você está pensando.”
Nesse trecho, o autor está sendo irônico.
Por quê?
a) Porque a impossibilidade de se escrever
números, deriva-se da falta de alfabetização e não da capacidade mental dos
seres humanos. Espera-se entender que com isso, houve um certo deboche por
parte do vendedor.
b) Na verdade ele se refere ao desenho dos
itens de compra.
c) No caso, não saber fazer o número oito
seria mesmo mostra de debilidade mental. Logo, o autor está dizendo o contrário
do que pensa, para causar impacto no leitor.
d) Porque não é necessário se fazer
desenhos das coisas, independente do caso.
e) Na verdade, o desencontro de
informações entre os dois, disseminou muitos questionamentos, que levou ao
momento do desenho, que por si só, já é irônico.
Texto 01
AS MÃOS QUE LIAM
Minhas amiguinhas (...) tinham
uma novidade para me contar:
– Enquanto você estava doente,
apareceu na aldeia uma moça que sabe ler as palavras com a ponta dos dedos.
– Como? – perguntei incrédula e,
ao mesmo tempo, desapontada por não ter sido a primeira a descobrir o fato.
– É isso mesmo. Ela lê com as
mãos. Todas as terças-feiras ela vai à igreja para contar a História Sagrada
para as crianças do catecismo. Você quer ir?
Se eu queria? Mas como perder
tal maravilha? Aquela moça devia ser uma criatura encantada, que tinha parte
não com o diabo, mas com Deus e todos os anjos. Talvez fosse até santa,
fazedora de milagres, dessas que saíam nas procissões de Saracena, acompanhadas
por velas e cânticos.
Na terça-feira, fomos em bando
até a igreja e nos sentamos nos primeiros bancos. Ali fiquei eu, com o coração
ansioso, à espera da moça que recolhia as palavras com as mãos, como se fossem
frutos maduros das árvores.
De súbito, ela entrou. Caminhava
devagarinho pelo corredor, apoiada em uma bengala (...). E, quando se aproximou
do altar, fez o sinal da cruz, sentando-se à nossa frente. Tinha uma expressão
bondosa, mas distante, posta no vazio. Olhava-nos, mas não nos via.
Abrindo um enorme livro,
realizou o milagre. Eu a vi, então, tocando com os dedos as folhas brancas,
inteiramente brancas, sem nenhuma palavra desenhada, só com alguns pontinhos em
relevo, como cabeças de alfinete. Ela decifrava o papel com as mãos assim como
eu decifrava com os olhos os livros do meu avô astrônomo.
E foi para esse avô que eu fui
contar correndo a novidade. Ele, porém, não se espantou. Era um homem que lia
muito, que sabia muito, embora nunca saísse da aldeia. Ele viajava nos livros.
(Será que também lia com os dedos, quando ninguém estava vendo?...)
– Fortunatella, como essa moça é
cega, aprendeu a ler de maneira diferente das pessoas que podem enxergar. Cada
monte de pontinhos daqueles é uma letra. E uma reunião de pontinhos é uma
palavra. Caminhando com os dedos sobre esses montinhos, ela vai decifrando as
frases.
Eu estava perplexa:
– E quem ensinou essa moça
a ler desse jeito?
– Não sei, Fortunatella, não
sei. Na aldeia, isso é novidade. Mas quem inventou esse jeito de ler foi um
cego que morreu na França há mais ou menos quarenta anos.
Quarenta anos era uma
eternidade, que eu nem sabia calcular. E a França devia ser um reino encantado
onde as pessoas – que maravilha! – aprendiam a ler sem enxergar.
– Vovô Leone, eu também quero
ler com as mãos. É mais bonito do que com os olhos!
– Não diga isso, Fortunatella.
Enxergar é uma bênção. Mas, se você quiser, pode aprender a ler o mundo com os
dedos, sim. Você tem tato: toque, apalpe, sinta.
Fiquei olhando vovô Leone,
admirada da sua sabedoria. E fui tentando, nos dias que se seguiram, apalpar as
coisas que estavam na minha frente. Era uma nova brincadeira: fechava os olhos
e tateava. E assim fui aprendendo a conhecer a lisura de uma folha de papel, as
nervuras de uma folha de árvore, o calor de uma cinza da lareira, o veludoso da
pele do meu rosto, o fofo do miolo do pão, a aspereza de uma pedra da rua, a
fluidez da água da fonte.
E uma noite, depois de acabar de rezar e
depois que vovó Catarina apagou a vela do quarto, eu quis ler o escuro. Ergui
as mãos e fui tocando a espessura negra à volta da cama. E aí a noite ficou
presa entre meus dedos, silenciosamente adormecida até o alvorecer...
05) Sobre o texto, pode-se afirmar que:
a) No sexto parágrafo, Fortunella compara o
ato de ler com as mãos, ao de colher frutos maduros;
b) A moça cega aparece na igreja de forma
repentina, mas não inesperada;
c) Em “Abrindo um enorme livro, realizou o
milagre” a narradora se refere a sabedoria do vovô Leone;
d) Em “enxergar é uma benção” a avó de
Fortunella se refere ao fato da menina querer ler com as mãos, sendo que ela
possui perfeitamente todos os sentidos;
e) nra
06) Ainda sobre o texto, é incorreto afirmar
que:
a) Quem contou a novidade inicial a Fortunella
foram suas amigas, pois a mesma estava doente naquela época.
b) No período “Mas como perder tal maravilha”,
Fortunella se refere ao fato da igreja possuir curso de braile (leitura com as
mãos)
c) A menina que lia com as mãos, usava uma
bengala e andava devagar;
d) As páginas do livro lido pela menina que
lia com as mãos não possuíam letras;
e) A primeira pessoa que Fortunella pensou em
contar a novidade foi seu avô.
07) A personagem principal desta narrativa é
uma menina. Qual das alternativas a seguir não corresponde à
linguagem, às atitudes e aos sentimentos bem próprios da infância?
a) Na primeira frase do texto, Fortunatella se
refere às amigas no diminutivo – “amiguinhas”.
b) Ela fica desapontada por não ter sido
a primeira a descobrir a novidade da aldeia; ela acreditou que estava diante de
um milagre ao ver a moça lendo com as mãos; vive no mundo da imaginação, da
fantasia, pois acredita que a França é um reino encantado.
c) Fortunatella usa o recurso da
comparação para descrever a forma de a moça cega ler: “recolhia as palavras com
as mãos, como se fossem frutos maduros das árvores”.
d) A personagem é ingênua, ela diz ao avô que
quer ler com as mãos porque é “mais bonito do que com os olhos”.