Primeiramente,
quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para
realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Texto 01
O arquivo
Victor Giudice
No fim de um ano
de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.
joão era moço.
Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um
dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou
atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.
No dia seguinte,
mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário
reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou a tomar
duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava
mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
Dois anos mais
tarde, veio outra recompensa.
O chefe chamou-o e
lhe comunicou o segundo corte salarial.
Desta vez, a
empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior:
dezessete por cento.
Novos sorrisos,
novos agradecimentos, nova mudança.
Agora joão
acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia
menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento
aumentou.
Prosseguiu a luta.
Porém, nos quatro
anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.
joão
preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos.
Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou
a trabalhar mais duas horas diárias.
Uma tarde, quase
ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.
Respirou
descompassado.
— Seu joão. Nossa
firma tem uma grande dívida com o senhor.
joão baixou a
cabeça em sinal de modéstia.
— Sabemos de todos
os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso
reconhecimento.
O coração parava.
— Além de uma
redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de
ontem, rebaixá-lo de posto.
A revelação
deslumbrou-o. Todos sorriam.
— De hoje em
diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de
férias. Contente?
Radiante, joão
gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao
trabalho.
Nesta noite, joão
não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.
Mais uma vez,
mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche.
Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita
roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.
Chegava em casa às
onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois
ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos
prêmios.
Aos sessenta anos,
o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à
fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas
quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos
campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol
adquirido há muito tempo.
O corpo era um
monte de rugas sorridentes.
Todos os dias, um
caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de
serviço, foi convocado pela chefia:
— Seu joão. O
senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua
função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.
O crânio seco
comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas
nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos.
Tentou sorrir:
— Agradeço tudo
que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.
O chefe não
compreendeu:
— Mas seu joão,
logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses
terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo
isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?
A emoção impediu
qualquer resposta.
joão afastou-se. O
lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A
cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos
lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.
joão transformou-se num arquivo de metal.
01) A Ironia consiste
em dizer o contrário do que se pensa, mas dando a entender o que realmente se
pensa, é empregada num texto como recurso para criticar determinada pessoa ou
determinada situação. Qual dos termos abaixo, retirados do texto não representa
ironia?
a) Recompensa
b) contentamento
c) reconhecimento
d) objetivos
e) emoção
02) O nome da personagem aparece
grafado com inicial maiúscula, apenas no primeiro parágrafo do texto. No
restante da narrativa parece com inicial minúscula. Sobre isso aponte a
alternativa correta:
a) Essa maneira de escrever não constitui
uma infração de ortografia;
b) A liberdade textual permite que o
autor, em qualquer tipo de texto, reduza a letra inicial do nome tornando-o um
substantivo comum;
c) A intenção do autor, ao infringir
propositalmente a gramática, provavelmente seria mostrar a transformação de
João numa coisa, num ser inanimado, já que substantivos comuns se grafam com
letra inicial minúscula;
d) João é um substantivo que pode ser
comum e próprio ao mesmo tempo na língua portuguesa;
e) nra
03) Ainda sobre o texto é falsa a
alternativa...
a) A situação ironizada pelo autor é a
situação do trabalhador, que por mais que se esforce, ganha cada vez menos e
acaba perdendo a dignidade;
b) O clímax da gradação apresentada no
texto sobre a carreira de João, seria o corte total do salário e a nova função:
faxineiro de sanitários;
c) No desfecho do conto João transforma-se
num arquivo;
d) O desfecho do texto mostra a
desumanização de João, ou seja, do trabalhador mal remunerado;
e) Sobre moradia, o texto mostra que João
muda-se para locais cada vez mais pobres, porém perto do seu trabalho, até
ficar no relento.
04) Em qual das alternativas abaixo
o sujeito é Inexistente?
a) Finalmente, deixara de jantar.
b) O almoço reduzira-se a um sanduíche.
c) Emagrecia, sentia-se mais leve, mais
ágil.
d) Não havia necessidade de muita roupa.
e) Eliminara certas despesas inúteis,
lavadeira, pensão.
05) Em todas as alternativas abaixo
o sujeito é Oculto, com exceção da alternativa...
a) No dia seguinte, mudou-se para um
quarto mais distante do centro da cidade.
b) Com o salário reduzido, podia pagar um
aluguel menor.
c) Passou a tomar duas conduções para
chegar ao trabalho.
d) No entanto, estava satisfeito.
e) Dois anos mais tarde, veio outra
recompensa.
Texto
02
MOÇA DEITADA NA
GRAMA
Carlos Drummond de
Andrade
A moça estava
deitada na grama.
Eu vi e achei
lindo. Fiquei repetindo para meu deleite pessoal: “Moça deitada na grama.
Deitada na grama. Na grama”. Pois o espetáculo me embevecia. Não é qualquer
coisa que me embevece, a esta altura da vida. A moça, o estar deitada na grama,
àquela hora da tarde, enquanto os carros passavam e cada ocupante ia ao seu
compromisso, à sua alegria ou à sua amargura, a moça e sua posição me
embeveceram.
Não tinha nada de
exibicionista, era a própria descontração, o encontro do corpo com a
tranquilidade, fruída em estado de pureza. Quem quisesse reparar, reparasse;
não estava ligando nem desafiando costumes nem nada. Simplesmente deitada na
grama, olhos cerrados, mãos na testa, vestido azul, sapatos brancos, pulseira,
dois anéis, elegante, composta. De pernas, mostrava o normal. Não era imagem
erótica.
Dormia? Não.
Pequenos movimentos indicavam que permanecia consciente, mas eram tão pequenos
que se percebia seu bem-estar inalterável, sua intenção de continuar assim à
sombra dos edifícios, no gramado.
Resolvi parar um
pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça,
plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de
ser imóvel. E que arfava docemente. Ah, o arfar da moça, que lhe erguia com
leveza o busto, lembrando o sangue de circular nas artérias silenciosas, tão
vivo; e tão calmo, como se também ele quisesse descansar na grama, curtir para
sempre aquele instante de felicidade.
Eis se aproxima um
guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. De leve. Ela abre os olhos, sorri
bem-disposta:
– Quer deitar
também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:
– Não, moça… me
desculpe. É o seguinte. A senhora… quer fazer o favor de levantar?
– Levantar por
quê? Está tão bom aqui.
– A senhora não
pode ficar aí assim não. Levante, estou lhe pedindo.
– Por que hei de
levantar? Minha posição é cômoda, eu estou bem aqui. Olhe ali adiante aquele
homem, ele também está deitado na grama.
– Aquele homem é
diferente, a senhora não percebe?
– Percebo que é
homem, e daí? Homem pode, mulher não?
– Bom, poder
ninguém pode, é proibido, mas sendo homem, além disso mindingo…
– Ah, compreendo
agora. Sendo homem e mindingo, tem direito a deitar no gramado, mas sendo
mulher, tendo profissão liberal, pagando imposto de renda, predial, lixo,
sindicato, etc., nada feito. É isso que o senhor quer dizer?
– Deus me livre,
moça. Quem sou eu para dizer uma coisa dessas? Só que é a primeira vez, e eu
tenho dez anos de serviço, que vejo uma dona como a senhora, bem-vestida,
bem-apessoada, assim espichada na grama. Com a devida licença, achei que não
ficava bem imitar os homens, os mindingos, que a gente tem pena e deixa por aí…
– Faça de conta
que eu também sou mindinga – e a moça abriu para ele um sorriso
especial.
– Para o bem da
senhora, não convém se arriscar desse jeito.
– Eu acho que não
estou me arriscando nada, pois tem o senhor aí me garantindo.
– Obrigado. Eu
garanto até certo ponto, mas basta a gente virar as costas, vem aí um elemento
e furta o seu reloginho, a sua bolsa, as suas coisas.
– Sei me defender,
meu santo. Tenho o meu cursinho de caratê.
– Tá certo, mas
não deve de facilitar. A senhora se levante, em nome da lei.
– Espere aí. Ou
todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade.
– Essa lei eu não
conheço, dona. Não posso conhecer todas as leis. Essa que a senhora fala, eu
acho que não pegou.
– Mas deve pegar.
É preciso que pegue, mais cedo ou mais tarde.
– Não vai
levantar?
– Não.
Ele coçou a
cabeça. Agarrar a moça era violência, ela ia reagir, juntava povo, criava caso.
Afinal, não estava fazendo nada de imoral nem subversivo. Por outro lado, não
pegava bem moça deitada na grama – ele devia ter na mente a idéia de moça
vestida de gaze, aérea, meio arcanjo, nunca deitável no chão de grama, como
qualquer vagabundo fedorento.
– A senhora não
devia me fazer uma coisa dessas.
– Fazer o quê?
– Me expor nesta
situação.
– Eu não fiz
nada, estava numa boa oriental, o senhor chega e…
– É muito difícil
lidar com mulheres, elas têm resposta para tudo.
– Vamos fazer uma
coisa. O senhor faz que não me viu, vai andando, eu saio daqui a pouco. Só mais
dez minutos, para não parecer que estou cedendo a um ato de força.
– Pode ficar o
tempo que quiser – decidiu ele. – A senhora falou numa tal lei da igualdade,
então vamos cumprir. Só que aquele malandro ali adiante tem de se mandar
urgente, eu vou lá dar um susto nele, já gozou demais da lei da igualdade,
agora chega!
06) A frase “Não é qualquer coisa
que me embevece a essa altura da vida” mostra que:
a) O cronista já não era jovem
b) O cronista não tinha medo da morte
c) O cronista teme a morte como qualquer
outro ser humano
d) O cronista compadece da situação da
moça
e) nra
07) Sobre o texto é correto afirmar
que:
a) A moça deitada na grama compõem uma
cena que transmitia tranquilidade, calma e descontração
b) A chegada de um guarda não perturbou a
tranquilidade da Moça
c) O convite que a moça faz ao Guarda para
aproveitar a tarde gostosa, a fala dela e sua capacidade de argumentar, deixa o
mais seguro de si
d) O sinal de pontuação que revela na
resposta do guarda que ele ficou encabulado, é o ponto de exclamação
e) A moça em momento algum se acha no
direito de desobedecer ao guarda
08) Sobre o texto é incorreto
afirmar que
a) Ao dizer que o outro além de ser homem
era mendigo, o guarda contra-argumenta a moça
b) Ao comparar a atitude da moça quando
mendigo, o guarda leva em conta a diferença de sexo e a situação social de cada
um
c) Ao dizer “A senhora se levante em nome
da lei.” o contra-argumento utilizado pela moça é, “ou todos se levantam ou eu
continuo deitada em nome da lei da igualdade”
d) A moça quis sair um pouco depois do
guarda para não parecer que está cedendo a um ato de força
e) nra
09) Em qual das alternativas abaixo,
o termo “moça” aparece como núcleo do sujeito?
a) ...a moça e sua posição me
embeveceram.
b) – Deus me livre, moça.
c) ...e a moça abriu para ele um
sorriso especial.
d) Agarrar a moça era violência, ...
e) Por outro lado, não pegava bem moça
deitada na grama – ...
10) Leia as orações abaixo e
assinale a alternativa que identifica corretamente os sujeitos:
I. Meias e sapatos
estão em promoção naquela loja.
II. Garoou muito em São
Paulo nos últimos dias.
III. Aluga-se esta casa.
a)
sujeito composto; sujeito inexistente; sujeito indeterminado
b)
sujeito simples; sujeito composto; sujeito oculto
c)
sujeito composto; sujeito simples; sujeito indeterminado
d)
sujeito indeterminado; sujeito oculto; sujeito simples
e)
sujeito oculto; sujeito composto; sujeito simples