Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para
realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Se eu fosse Sherlock Holmes
Os romances de Conan Doyle me deram o desejo de
empreender alguma façanha no gênero das de Sherlock Holmes. Pareceu-me que
deles se concluía que tudo estava em prestar atenção aos fatos mínimos. Destes,
por uma série de raciocínios lógicos, era sempre possível subir até o autor do
crime.
Quando acabara a leitura do último dos livros do Conan
Doyle, meu amigo Alves Calado teve a oportuna nomeação de delegado auxiliar.
Íntimos, como éramos, vivendo juntos, como vivíamos na mesma pensão, tendo até
escritório comum de advocacia, eu lhe tinha várias vezes exposto minhas ideias
de “detetive”. (...)
Passei dias esperando por algum acontecimento trágico, em
que pudesse revelar minha sagacidade. Creio que fiz mais do que esperar:
cheguei a desejar.
Uma noite, fui convidado por Madame Guimarães para uma
pequena reunião familiar. Em geral, o que ela chamava “pequenas reuniões” eram
reuniões de vinte a trinta pessoas, da melhor sociedade.
Dançava-se, ouvia-se boa música e quase sempre ela exibia
algum “número” curioso: artistas de teatro, de music-hall ou de circo, que
contratava para esse fim. O melhor, porém, era talvez a palestra que então se
fazia, porque era mulher muito inteligente e só convidava gente de espírito.
Fazia disso questão.
A noite em que lá estive entrou bem nessa regra. Em certo
momento, quando ela estava cercada por uma boa roda, apareceu Sinhazinha Ramos.
Sinhazinha era sobrinha de Madame Guimarães; casara-se pouco antes com um
médico de grande clínica. Vindo só, todos lhe perguntaram:
— Como vai seu marido?
— Tem trabalhado por toda a noite, com uma cliente.
— É admirável como os médicos casados têm sempre clientes
noturnas…
— Má língua! ‒ replicou ela. Ele sempre os teve.
Outra senhora, Madame Caldas, acudiu:
— Os maridos, quando querem passar a noite fora de casa,
acham sempre pretextos.
Voltei-me para o dr. Caldas, que era advogado, e
interpelei-o:
— Tem palavra o acusado!
O dr. Caldas não gostou da afirmação da mulher. Resmungou
apenas:
— Tolices de Adélia…
O embaraço dele se dissipou, porque Madame Guimarães
perguntou à sobrinha:
— Onde deixastes tua capa?
— No meu automóvel. Não quis ter a maçada de subir.
A casa era de dois andares e Madame Guimarães, nos dias
de festas, tomava a si arrumar capas e chapéus femininos no seu quarto:
— Serviço de vestiário é exclusivamente comigo. Não quero
confusões.
Nisto, uma das senhoras presentes veio despedir-se de
Madame Guimarães. Precisava de seu chapéu. A dona da casa, que, para evitar
trocas e desarrumações, era a única a penetrar no quarto que transformara em
vestiário, levantou-se e subiu para ir buscar o chapéu da visita, que desejava
partir. Não se demorou muito tempo. Voltou com a fisionomia transtornada:
— Roubaram-me. Roubaram o meu anel de brilhantes…
Todos se reuniram em torno dela. Como era? Como não era?
Não havia, aliás, nenhuma senhora que não o conhecesse: um anel com três
grandes brilhantes de um certo mau gosto espetaculoso, mas que valia de
sessenta a oitenta contos.
Sherlock Holmes gritou dentro de mim: “Mostra o teu
talento, rapaz!”.
Sugeri logo que ninguém entrasse no quarto. Ninguém! Era
preciso que a Polícia pudesse tomar as marcas digitais que por acaso houvesse
na mesa de cabeceira de Madame Guimarães. Porque era lá que tinha estado a
jóia.
Saltei ao telefone, toquei para o Alves Calado, que se
achava de serviço nessa noite, e preveni-o do que havia, recomendando-lhe que
trouxesse alguém, perito em datiloscopia.
Ele respondeu de lá com a sua força habitual:
— Vais afinal entrar em cena com a tua alta polícia
científica?
Objetou-me, porém, que a essa hora não podia achar nenhum
perito. Aprovou, entretanto, que eu não consentisse ninguém entrar no quarto.
Subi então com todo o grupo para fecharmos a porta a chave. Antes de se fechar,
era, porém, necessário que Madame Guimarães tirasse as capas que estavam no seu
leito. Todos ficaram no corredor, mirando, comentando. Eu fui o único que
entrei, mas com cuidado extremo, um cuidado um tanto cômico de não tocar em
coisa alguma. Como olhasse para o teto e para o assoalho, uma das senhoras me
perguntou se estava jogando “o carneirinho-carneirão, olhai para o céu, olhai para
o chão”.
Retiradas as capas, o zunzum das conversas continuava.
Ninguém tinha entrado no quarto fatídico. Todos o diziam e repetiam.
Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu
dentro de mim. Anunciei:
— Já sei quem furtou o anel.
De todos os lados surgiam exclamações. Algumas pessoas se
limitavam a interjeições: “Ah!”, “Oh!”. Outras perguntavam quem tinha sido.
Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um
gabinete próximo:
— Eu vou para aquele gabinete. Cada uma das senhoras aqui
presentes 56 fecha-se ali em minha companhia por cinco minutos.
— Por cinco minutos? ‒ indagou dr. Caldas.
— Porque eu quero estar o mesmo tempo com cada uma, para
não se poder concluir da maior demora com qualquer delas que essa foi a
culpada. Serão para cada uma cinco minutos cronométricos.
E a cerimônia começou. Cada uma das senhoras esteve
trancada comigo justamente os cinco minutos que eu marcara.
Quando a última partiu, saiu do gabinete, achei à porta
ansiosa, Madame Guimarães:
— Venha comigo ‒ disse-lhe eu.
Aproximei-me do telefone, chamei Alves Calado e disse-lhe
que não precisava mais tomar providência alguma, porque o anel fora achado.
Voltando-me para Madame Guimarães entreguei-o então. Ela
estava tão nervosa que me abraçou e até beijou freneticamente. Quando, porém,
quis saber quem fora a ladra, não me arrancou nem uma palavra.
No quarto, ao ver Sinhazinha Ramos entrar, tínhamos tido,
mais ou menos, a seguinte conversa:
— Eu não vou deitar verdes para colher maduros, não vou
armar cilada alguma. Sei que foi a senhora que tirou a jóia de sua tia.
Ela ficou lívida. Podia ser de medo. Podia ser cólera.
Mas respondeu firmemente:
— Insolente! É assim que o senhor está fazendo com todas,
para descobrir a culpada?
— Está enganada. Com as outras converso apenas,
conto-lhes anedotas. Com a senhora, não; exijo que me entregue o anel.
Mostrei-lhe o relógio para que visse que o tempo estava
passado.
— Note ‒ disse eu ‒ que tenho uma prova, posso fazer ver
a todos. Ela se traiu, pedindo:
— Dê sua palavra
de honra que tem essa prova!
Dei. Mas o seu sorriso lhe mostrou que ela, sem dar por
isso, confessara indiretamente o fato.
— E já agora ‒ acrescentei ‒ dou-lhe também a minha
palavra de honra que nunca ninguém saberá por mim o que fez.
Ela tremia toda.
— Veja que falta um minuto. Não chore. Lembre-se de que
precisa sair daqui com uma fisionomia jovial. Diga que estivemos falando de
modas.
Ela tirou a jóia do seio, deu-ma e perguntou:
— Qual é a prova?
— Esta ‒ disse-lhe eu apontando para uma esplêndida
rosa-chá que ela trazia. ‒ É a única pessoa, esta noite, que tem aqui uma rosa
amarela. Quando foi ao quarto de sua tia, teve a infelicidade de deixar cair
duas pétalas dela. Estão junto da mesa de cabeceira.
Abri a porta. Sinhazinha compôs magnificamente,
imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos sorrisos e saiu dizendo:
— Se este Sherlock fez com todas o mesmo o que fez comigo
vai ser um fiasco.
Não foi fiasco, mas foi pior.
Quando Sinhazinha chegara, subira, logo. Graças à
intimidade que tinha na casa, onde vivera até a data do casamento, podia fazer
isso naturalmente. Ia só para deixar a sua capa dentro do armário. Mas, à
procura de um alfinete, abriu a mesinha de cabeceira, viu o anel, sentiu a
tentação de roubá-lo e assim fez. Lembrou-se de que tinha de ir para a Europa
daí a um mês. Lá venderia a jóia. Desceu então novamente com a capa e mandou
pô-la no automóvel. E como ninguém a tinha visto subir, pôde afirmar que não
fora ao andar superior.
Eu estraguei tudo.
Mas a mulherzinha se vingou: a todos insinuou que
provavelmente o ladrão tinha sido eu mesmo, e, vendo o caso descoberto antes da
minha retirada, armara aquela encenação para atribuir a outrem o meu crime.
O que sei é que Madame Guimarães, que sempre me convidava
para as suas recepções, não me convidou para a de ontem…
Terá talvez sido a primeira a acreditar na sobrinha.
ALBUQUERQUE, Medeiros. Se eu fosse Sherlock Holmes. In:
Para gostar de ler – Histórias de detetive. São Paulo: Ática, 1998.
01)
Sobre o texto acima é correto afirmar que:
a) No
conto, o narrador, admirador das histórias de detetive, empreende uma
investigação sobre o roubo de um anel.
b) As
histórias do detetive Sherlock Holmes não são fontes de inspiração para o
narrador.
c) Sherlock
Holmes atua na investigação de maneira semelhante a do narrador.
d) O
narrador observa detalhes e faz deduções lógicas a partir do que observa e do
invisível.
e) nra
02)
Qual dos trechos abaixo sugere que quem
está à frente da investigação é o próprio detetive Sherlock Holmes e não o narrador?
a) “Foi
no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim.”
b) “Sherlock
Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo”
c) “Sugeri
logo que ninguém entrasse no quarto.”
d) “Serão
para cada uma cinco minutos cronométricos.”
e) “Retiradas
as capas, o zunzum das conversas continuava.”
03)
No conto policial, as pistas - falsas ou verdadeiras - são sempre enunciadas. Que
fato citado no início do texto fornece uma pista sobre o autor do roubo do
anel?
a) O fato
de sinhazinha afirmar que não subiu até o quarto para guardar a capa,
preferindo deixá-la no automóvel.
b) A
oportuna nomeação de Alves Calado a delegado auxiliar.
c) O
convite de Madame Guimarães para uma pequena reunião familiar.
d) A
presença, no recinto, de artistas de teatro.
e) nra
04)
O narrador, em determinado momento, já sabia quem roubara o anel e usou este artifício
para disfarçar, evitando assim um escândalo ou constrangimentos. Com isso ele
decidiu:
a)
Convocar todos os homens para o interrogatório
b)
Acionar a polícia para ajudar na investigação
c)
Finalizar a cerimônia para concluir a investigação
d)
Convocar todas as mulheres para o interrogatório
e)
Iniciar um interrogatório com Sherlock Holmes
05)
Relacione as duas colunas explicando os sentidos que podem ser atribuídos às
expressões em destaque:
Agora
marque a alternativa que representa, respectivamente, a sequência das respostas:
a) D – B –
C – A
b) A – B –
C – D
c) A – C –
D – B
d) C – A –
B – D
e) D – A –
B – C
06)
A sagacidade do narrador o levou a fazer algumas deduções e elucidar o caso a
ti mesmo de convocar as mulheres. Que item ele observou que foi fundamental a
elucidação do caso?
a) As
marcas digitais que estavam na mesa de cabeceira de Madame Guimarães.
b) A
presença de um perito em datiloscopia;
c) A fisionomia transtornada de Madame Guimarães;
d) As
pétalas encontradas no aposento;
e) A presença
de artistas no evento.
07)
Das alternativas abaixo qual provavelmente não fez o narrador deduzir
que Sinhazinha fora a autora do roubo?
a)
Somente madame Guimarães guardar o vestiário dos convidados;
b) Sinhazinha,
por ser sobrinha de madame Guimarães, ter intimidade para subir aos aposentos;
c) Somente
as mulheres terem interesse em roubar o anel;
d) Sinhazinha
afirmar que deixar a capa no automóvel;
e) todas
as alternativas acima.
08)
Observe o trecho a seguir do texto: " Sinhazinha compôs magnificamente,
imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos sorrisos (...)."
O que as palavras em destaque sugerem sobre o
jeito da personagem?
a) Que
ela é dissimulada e rápida em suas reações;
b) Que
ela é insegura em suas reações;
c) Que
ela é ardilosa, porém calma em suas reações;
d) Que
ela é duvidosa e tímida em suas reações;