segunda-feira, 6 de outubro de 2025

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 11/10/25 – VALE 10,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

  

Se eu fosse Sherlock Holmes

 

Os romances de Conan Doyle me deram o desejo de empreender alguma façanha no gênero das de Sherlock Holmes. Pareceu-me que deles se concluía que tudo estava em prestar atenção aos fatos mínimos. Destes, por uma série de raciocínios lógicos, era sempre possível subir até o autor do crime.

Quando acabara a leitura do último dos livros do Conan Doyle, meu amigo Alves Calado teve a oportuna nomeação de delegado auxiliar. Íntimos, como éramos, vivendo juntos, como vivíamos na mesma pensão, tendo até escritório comum de advocacia, eu lhe tinha várias vezes exposto minhas ideias de “detetive”. (...)

Passei dias esperando por algum acontecimento trágico, em que pudesse revelar minha sagacidade. Creio que fiz mais do que esperar: cheguei a desejar.

Uma noite, fui convidado por Madame Guimarães para uma pequena reunião familiar. Em geral, o que ela chamava “pequenas reuniões” eram reuniões de vinte a trinta pessoas, da melhor sociedade.

Dançava-se, ouvia-se boa música e quase sempre ela exibia algum “número” curioso: artistas de teatro, de music-hall ou de circo, que contratava para esse fim. O melhor, porém, era talvez a palestra que então se fazia, porque era mulher muito inteligente e só convidava gente de espírito. Fazia disso questão.

A noite em que lá estive entrou bem nessa regra. Em certo momento, quando ela estava cercada por uma boa roda, apareceu Sinhazinha Ramos. Sinhazinha era sobrinha de Madame Guimarães; casara-se pouco antes com um médico de grande clínica. Vindo só, todos lhe perguntaram:

— Como vai seu marido?

— Tem trabalhado por toda a noite, com uma cliente.

— É admirável como os médicos casados têm sempre clientes noturnas…

— Má língua! ‒ replicou ela. Ele sempre os teve.

Outra senhora, Madame Caldas, acudiu:

— Os maridos, quando querem passar a noite fora de casa, acham sempre pretextos.

Voltei-me para o dr. Caldas, que era advogado, e interpelei-o:

— Tem palavra o acusado!

O dr. Caldas não gostou da afirmação da mulher. Resmungou apenas:

— Tolices de Adélia…

O embaraço dele se dissipou, porque Madame Guimarães perguntou à sobrinha:

— Onde deixastes tua capa?

— No meu automóvel. Não quis ter a maçada de subir.

A casa era de dois andares e Madame Guimarães, nos dias de festas, tomava a si arrumar capas e chapéus femininos no seu quarto:

— Serviço de vestiário é exclusivamente comigo. Não quero confusões.

Nisto, uma das senhoras presentes veio despedir-se de Madame Guimarães. Precisava de seu chapéu. A dona da casa, que, para evitar trocas e desarrumações, era a única a penetrar no quarto que transformara em vestiário, levantou-se e subiu para ir buscar o chapéu da visita, que desejava partir. Não se demorou muito tempo. Voltou com a fisionomia transtornada:

— Roubaram-me. Roubaram o meu anel de brilhantes…

Todos se reuniram em torno dela. Como era? Como não era? Não havia, aliás, nenhuma senhora que não o conhecesse: um anel com três grandes brilhantes de um certo mau gosto espetaculoso, mas que valia de sessenta a oitenta contos.

Sherlock Holmes gritou dentro de mim: “Mostra o teu talento, rapaz!”.

Sugeri logo que ninguém entrasse no quarto. Ninguém! Era preciso que a Polícia pudesse tomar as marcas digitais que por acaso houvesse na mesa de cabeceira de Madame Guimarães. Porque era lá que tinha estado a jóia.

Saltei ao telefone, toquei para o Alves Calado, que se achava de serviço nessa noite, e preveni-o do que havia, recomendando-lhe que trouxesse alguém, perito em datiloscopia.

Ele respondeu de lá com a sua força habitual:

— Vais afinal entrar em cena com a tua alta polícia científica?

Objetou-me, porém, que a essa hora não podia achar nenhum perito. Aprovou, entretanto, que eu não consentisse ninguém entrar no quarto. Subi então com todo o grupo para fecharmos a porta a chave. Antes de se fechar, era, porém, necessário que Madame Guimarães tirasse as capas que estavam no seu leito. Todos ficaram no corredor, mirando, comentando. Eu fui o único que entrei, mas com cuidado extremo, um cuidado um tanto cômico de não tocar em coisa alguma. Como olhasse para o teto e para o assoalho, uma das senhoras me perguntou se estava jogando “o carneirinho-carneirão, olhai para o céu, olhai para o chão”.

Retiradas as capas, o zunzum das conversas continuava. Ninguém tinha entrado no quarto fatídico. Todos o diziam e repetiam.

Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim. Anunciei:

— Já sei quem furtou o anel.

De todos os lados surgiam exclamações. Algumas pessoas se limitavam a interjeições: “Ah!”, “Oh!”. Outras perguntavam quem tinha sido.

Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo:

— Eu vou para aquele gabinete. Cada uma das senhoras aqui presentes 56 fecha-se ali em minha companhia por cinco minutos.

— Por cinco minutos? ‒ indagou dr. Caldas.

— Porque eu quero estar o mesmo tempo com cada uma, para não se poder concluir da maior demora com qualquer delas que essa foi a culpada. Serão para cada uma cinco minutos cronométricos.

E a cerimônia começou. Cada uma das senhoras esteve trancada comigo justamente os cinco minutos que eu marcara.

Quando a última partiu, saiu do gabinete, achei à porta ansiosa, Madame Guimarães:

— Venha comigo ‒ disse-lhe eu.

Aproximei-me do telefone, chamei Alves Calado e disse-lhe que não precisava mais tomar providência alguma, porque o anel fora achado.

Voltando-me para Madame Guimarães entreguei-o então. Ela estava tão nervosa que me abraçou e até beijou freneticamente. Quando, porém, quis saber quem fora a ladra, não me arrancou nem uma palavra.

 

No quarto, ao ver Sinhazinha Ramos entrar, tínhamos tido, mais ou menos, a seguinte conversa:

— Eu não vou deitar verdes para colher maduros, não vou armar cilada alguma. Sei que foi a senhora que tirou a jóia de sua tia.

Ela ficou lívida. Podia ser de medo. Podia ser cólera. Mas respondeu firmemente:

— Insolente! É assim que o senhor está fazendo com todas, para descobrir a culpada?

— Está enganada. Com as outras converso apenas, conto-lhes anedotas. Com a senhora, não; exijo que me entregue o anel.

Mostrei-lhe o relógio para que visse que o tempo estava passado.

— Note ‒ disse eu ‒ que tenho uma prova, posso fazer ver a todos. Ela se traiu, pedindo:

 — Dê sua palavra de honra que tem essa prova!

Dei. Mas o seu sorriso lhe mostrou que ela, sem dar por isso, confessara indiretamente o fato.

— E já agora ‒ acrescentei ‒ dou-lhe também a minha palavra de honra que nunca ninguém saberá por mim o que fez.

Ela tremia toda.

— Veja que falta um minuto. Não chore. Lembre-se de que precisa sair daqui com uma fisionomia jovial. Diga que estivemos falando de modas.

Ela tirou a jóia do seio, deu-ma e perguntou:

— Qual é a prova?

— Esta ‒ disse-lhe eu apontando para uma esplêndida rosa-chá que ela trazia. ‒ É a única pessoa, esta noite, que tem aqui uma rosa amarela. Quando foi ao quarto de sua tia, teve a infelicidade de deixar cair duas pétalas dela. Estão junto da mesa de cabeceira.

Abri a porta. Sinhazinha compôs magnificamente, imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos sorrisos e saiu dizendo:

— Se este Sherlock fez com todas o mesmo o que fez comigo vai ser um fiasco.

Não foi fiasco, mas foi pior.

Quando Sinhazinha chegara, subira, logo. Graças à intimidade que tinha na casa, onde vivera até a data do casamento, podia fazer isso naturalmente. Ia só para deixar a sua capa dentro do armário. Mas, à procura de um alfinete, abriu a mesinha de cabeceira, viu o anel, sentiu a tentação de roubá-lo e assim fez. Lembrou-se de que tinha de ir para a Europa daí a um mês. Lá venderia a jóia. Desceu então novamente com a capa e mandou pô-la no automóvel. E como ninguém a tinha visto subir, pôde afirmar que não fora ao andar superior.

Eu estraguei tudo.

Mas a mulherzinha se vingou: a todos insinuou que provavelmente o ladrão tinha sido eu mesmo, e, vendo o caso descoberto antes da minha retirada, armara aquela encenação para atribuir a outrem o meu crime.

O que sei é que Madame Guimarães, que sempre me convidava para as suas recepções, não me convidou para a de ontem…

Terá talvez sido a primeira a acreditar na sobrinha.

 


ALBUQUERQUE, Medeiros. Se eu fosse Sherlock Holmes. In: Para gostar de ler – Histórias de detetive. São Paulo: Ática, 1998.

 

 

01) Sobre o texto acima é correto afirmar que:

a) No conto, o narrador, admirador das histórias de detetive, empreende uma investigação sobre o roubo de um anel.

b) As histórias do detetive Sherlock Holmes não são fontes de inspiração para o narrador.

c) Sherlock Holmes atua na investigação de maneira semelhante a do narrador.

d) O narrador observa detalhes e faz deduções lógicas a partir do que observa e do invisível.

e) nra

 

02)  Qual dos trechos abaixo sugere que quem está à frente da investigação é o próprio detetive Sherlock Holmes e não o narrador?

a) “Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim.”

b) “Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo”

c) “Sugeri logo que ninguém entrasse no quarto.”

d) “Serão para cada uma cinco minutos cronométricos.”

e) “Retiradas as capas, o zunzum das conversas continuava.”

 

03) No conto policial, as pistas - falsas ou verdadeiras - são sempre enunciadas. Que fato citado no início do texto fornece uma pista sobre o autor do roubo do anel?

a) O fato de sinhazinha afirmar que não subiu até o quarto para guardar a capa, preferindo deixá-la no automóvel.

b) A oportuna nomeação de Alves Calado a delegado auxiliar.

c) O convite de Madame Guimarães para uma pequena reunião familiar.

d) A presença, no recinto, de artistas de teatro.

e) nra

 

04) O narrador, em determinado momento, já sabia quem roubara o anel e usou este artifício para disfarçar, evitando assim um escândalo ou constrangimentos. Com isso ele decidiu:

a) Convocar todos os homens para o interrogatório

b) Acionar a polícia para ajudar na investigação

c) Finalizar a cerimônia para concluir a investigação

d) Convocar todas as mulheres para o interrogatório

e) Iniciar um interrogatório com Sherlock Holmes

 

05) Relacione as duas colunas explicando os sentidos que podem ser atribuídos às expressões em destaque:

 


Agora marque a alternativa que representa, respectivamente, a sequência das respostas:

a) D – B – C – A

b) A – B – C – D

c) A – C – D – B

d) C – A – B – D

e) D – A – B – C

 

06) A sagacidade do narrador o levou a fazer algumas deduções e elucidar o caso a ti mesmo de convocar as mulheres. Que item ele observou que foi fundamental a elucidação do caso?

a) As marcas digitais que estavam na mesa de cabeceira de Madame Guimarães.

b) A presença de um perito em datiloscopia;

c) A fisionomia transtornada de Madame Guimarães;    

d) As pétalas encontradas no aposento;

e) A presença de artistas no evento.

 

07) Das alternativas abaixo qual provavelmente não fez o narrador deduzir que Sinhazinha fora a autora do roubo?

a) Somente madame Guimarães guardar o vestiário dos convidados;

b) Sinhazinha, por ser sobrinha de madame Guimarães, ter intimidade para subir aos aposentos;

c) Somente as mulheres terem interesse em roubar o anel;

d) Sinhazinha afirmar que deixar a capa no automóvel;

e) todas as alternativas acima.

 

08) Observe o trecho a seguir do texto: " Sinhazinha compôs magnificamente, imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos sorrisos (...)." O que as palavras em destaque sugerem sobre o jeito da personagem?

a) Que ela é dissimulada e rápida em suas reações;

b) Que ela é insegura em suas reações;

c) Que ela é ardilosa, porém calma em suas reações;

d) Que ela é duvidosa e tímida em suas reações;

e) Que ela é sugestiva e sagaz em suas reações;