Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de
forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Texto 01
Nos anos a.I. (antes da Internet)
Outro dia, numa escola, um dos alunos me perguntou como é que as pessoas se comunicavam quando não existia a Internet ─ isto é, na pré-história. Eu expliquei que já havia outros meios rudimentares de comunicação, tais como a carta e até mesmo o telefone. Não sei se o garoto ficou satisfeito com a resposta; mas a verdade é que a pergunta dele me fez lembrar uma curiosa história, acontecida com um colega meu. Antes da Internet, obviamente.
O colégio em que estudávamos tinha sido, por muito tempo, um
estabelecimento exclusivamente masculino. Por fim, e depois de anos
e discussão, a direção resolveu admitir alunas, mas com uma
condição: as turmas não seriam mistas. Rapazes de manhã, garotas à tarde. Não
sei exatamente o que temiam, que fantasias povoavam a cabeça daquelas pessoas; mas deveria ser algo muito alarmante
porque, apesar dos protestos do grêmio estudantil, não arredaram pé da decisão.
E, assim, as meninas foram finalmente admitidas, mas nunca viam os seus colegas
do sexo oposto.
Eu tinha um colega chamado Paulo. Um garoto magrinho, de óculos, tímido
e estudioso, tão tímido quanto estudioso. Ele falava muito pouco, mas tinha uma
qualidade: escrevia bem. A professora de português não poupava elogios às
redações que ele fazia. E, quando
elogiava, Paulo ficava vermelho, embaraçado, tamanha
era sua timidez.
Uma manhã, ao guardar os livros sob a carteira, ele encontrou ali uma
folha de papel cuidadosamente dobrada. Abriu-a e leu: “Ao meu colega da manhã”.
Era uma longa carta, escrita, curiosamente, em letra de
imprensa. Nela, a garota, que assinava apenas “Solitária da tarde”, montava que
não tinha namorado nem amigas, que se sentia muito só que por isso recorrera
àquele meio para se comunicar com alguém. Estou fazendo como o náufrago”,
dizia, “que coloca uma mensagem uma garrafa e joga-a ao mar. Espero que esta
mensagem chegue ao destino certo.”
Paulo não estava certo de que ele era “o destino certo”. Na
verdade, ficara profundamente perturbado só de ler a carta. Mas
então, e num gesto que a ele próprio surpreendeu, pegou uma folha e papel e ali
mesmo, em plena aula, escreveu uma longa carta para “Solitária da
tarde”. Nela, confessava que também se sentia sozinho que gostaria de partilhar
com a desconhecida missivista suas ideias,
seus sentimentos, suas emoções. E assinou, talvez sem muita
imaginação, “Solitário da manhã”. Dobrou a carta e, disfarçadamente, colocou-a
sob a carteira, esperando que a servente não encontrasse o papel.
A servente, que fazia seu trabalho apressadamente, de fato não achou a
carta. Mas a destinatária, sim. No dia seguinte, ao chegar à escola, a primeira
coisa que Paulo fez foi procurar pela resposta. O coração batendo forte, tateou
o compartimento. Dito e feito: lá estava a folha de papel.
Esta correspondência se prolongou pelo ano inteiro.
Nenhum dos dois propôs um encontro. Aparentemente, o que ambos queriam era
exatamente aquilo, trocar confidências. Mas, lá pelas tantas, Paulo deu-se
conta: não era só a afinidade que o
movia. Era mais do que isto. Ele
estava apaixonado pela correspondente. E queria vê-la.
Queria falar com ela. Queria, quem sabe, segurar sua mão. Mas faltava-lhe
coragem...
E então algo aconteceu que o fez tomar uma decisão.
Uma noite, o pai dele voltou para casa arrasado. Não quis
nem jantar: disse à mulher e a Paulo, filho único, que
precisavam conversar. Sentaram os três na sala e ele contou: estava indo mal
nos negócios, tinha de vender a pequena loja que possuía para pagar as dívidas. A
partir daquele dia
trabalharia numa outra loja, mas como empregado.
Isto
significava que o nível de vida da família baixaria muito.
Venderiam o carro, procurariam uma outra casa, menor ─ e Paulo teria de mudar
de colégio: aquele era muito caro.
Foi muito triste aquela cena, os pais abraçados, chorando, mas Paulo só
conseguia pensar numa coisa: estava a ponto de perder sua correspondente. E
então decidiu: precisava vê-la.
Talvez com isso se quebrasse o encanto, talvez ela não
quisesse saber dele, o que seria muito compreensível: Paulo estava longe de ser
um galã. A moça, pelo contrário ─ e ao menos na imaginação dele ─, era muito
linda.
Naquela noite quase não dormiu. De manhã, tinha resolvido: contaria o
ocorrido numa carta, proporia que se encontrassem. Sabia que disso poderia
resultar uma grande desilusão para ela, mas, uma vez que ele não teria mais
como lhe escrever, teriam pelo menos uma despedida de amigos.
Foi o primeiro a chegar à aula. Introduziu a mão sob a carteira ─ e nada
encontrou. Nenhuma folha de papel. Procurou de novo, e mais uma vez: nada.
Àquela altura já estava confuso, desesperado mesmo: o que teria acontecido?
Teria a servente encontrado a carta ─ e jogado fora? Criou coragem e no
intervalo foi procurá-la, na sala dos funcionários. Suando profusamente, e
gaguejando,
perguntou se ela havia encontrado uma folha de papel manuscrito. A servente,
uma mulher gorda, de cara meio debochada, olhou-o e disse que não: não
encontrara papel algum na carteira do Paulo. Ele então, suando ainda mais,
disse que tinha um pedido a fazer: que ela não limpasse sua carteira, ao menos
por uns dias. A servente riu, piscou o olho:
─ Já sei: você está escrevendo bilhetinhos para uma colega. Vá em frente,
rapaz: eu não vou mexer mais na sua carteira. [...]. [...] Naquele dia, nada
escreveu.
E, no dia seguinte, de novo a carteira estava vazia. Não sabia o que
pensar. O que teria acontecido com a “Solitária da tarde”? Teria adoecido?
Teria, como ele estava a ponto de fazer, deixado o colégio?
Só havia um meio de saber.
Naquela tarde foi ao colégio. O porteiro quis barrar-lhe a entrada ─
tinha ordens da direção para não deixar os alunos da manhã entrarem depois do
meio-dia ─, mas Paulo alegou que tinha um assunto urgente para resolver na
secretaria. Por fim, e ainda desconfiado, o homem deixou-o entrar.
Paulo foi
avançando pelo corredor, em direção à secretaria. Felizmente, sua sala ficava
no caminho. Ao passar por ali, lançou um disfarçado olhar pela janela ─ e seu
coração quase parou.
Havia uma garota sentada na mesma cadeira em que ele sentara pela
manhã. Uma garota loirinha, magrinha ─
bonita, muito bonita. Exatamente como Paulo imaginara? Isso ele
agora não saberia dizer. Talvez sim, talvez não: o fato é que a imagem mental
que ele fizera da desconhecida missivista agora dava lugar a uma figura real. E
essa figura já se apossara de seu coração.
Saiu do
colégio, mas não foi para casa: ficou no bar em frente ao colégio até que a
campainha soou, anunciando o fim das aulas. As garotas iam saindo, rindo,
conversando. Por fim ele a avistou. Tal como esperava, ela estava sozinha. E,
pelo jeito, morava perto, porque foi andando, sozinha. Ele a seguiu por uns
dois ou três quarteirões e por fim, num gesto que a ele próprio surpreendeu, adiantou-se
e, apresentando-se como o colega que ocupava a mesma classe pela manhã, disse
que queria conhecê-la. Ela olhou-o, e para surpresa e encantamento dele,
sorriu:
─ Eu também queria conhecer você. Afinal, alguma coisa em comum nós
temos, não é mesmo? Ou, quem sabe, muita coisa em comum.
E foi assim que tudo começou. Terminou em casamento, claro, mas não é
disso que quero falar agora.
Quando Paulo me contou essa história, muitos anos depois, a coisa que
mais me impressionou foi o fato de que, por muito tempo, ele não mencionou as
cartas. Não tinha coragem, ou não era necessário... O fato é que
não falou a respeito. O assunto veio por acaso. Um dia, olhando uma caderneta em que ela tomava
anotações, comentou:
─ Pensei que você gostasse de escrever em letra de imprensa.
Ela mirou-o, intrigada:
─ Em letra de imprensa? Por que haveria eu de escrever em letra de
imprensa? Você não acha minha letra boa?
─ Acho. Mas nas cartas que você me mandava...
─ As cartas que eu lhe mandava? ─ Ela, assombrada ─ Que cartas? Eu nunca
lhe mandei carta alguma, Paulo. Você está sonhando?
E então tudo se esclareceu. Ela não era a “Solitária da tarde”. Na
verdade, sentava em outro lugar; só passara a ocupá-lo depois que a antiga dona
subitamente deixara o colégio: a família mudara para outro
estado. Paulo ri muito, quando me conta essa história. E ela não
deixa de ser engraçada. Mas é também um pouco melancólica. Paulo é feliz, mas,
e a “Solitária da tarde”, que terá acontecido com ela? Será que
continua solitária? Será que continua se correspondendo com missivistas
desconhecidos? Provavelmente sim. Só que agora decerto recorre à Internet.
Mesmo a solidão se moderniza.
FALCÃO, Adriana e outros. Histórias dos tempo de escola. São Paulo: Nova
Alexandria,2002
01)
Sobre o texto, não podemos afirmar que:
a) o conto gira
em torno de uma situação inusitada, vivida entre dois alunos de uma escola;
b) o texto
conta a troca de cartas entre Paulo e a “Solitária da Tarde”;
c) a grande
surpresa dessa história é o fato de Paulo ter se casado com uma garota,
pensando tratar-se da Solitária da Tarde;
d) garota com a
qual Paulo se correspondia é a mesma pela qual ele se apaixonou na escola;
e) nra
02) A
informação de que as pessoas se comunicavam principalmente por meio de cartas e
de que a escola não era mista, demonstra:
a) que a
ambientação era um colégio rígido e religioso
b) que o
colégio onde estudavam os personagem com certeza se situava na região rural
c) a falta de
recursos financeiros dos personagens
d) que os fatos
narrados aconteceram em uma época diferente da nossa
e) nra
03)
Ainda sobre o texto, é correto afirmar que:
a) Ao explicar
o motivo que a levou a escrever a carta, Paulo diz que o faz como náufrago e
espera que a mensagem chegue ao destino
b) O uso do
termo “náufrago” revela que como aconteceria no caso de um naufrágio, escrever
uma carta para um desconhecido é um gesto de desespero.
c) O uso do
termo “náufrago” revela que como aconteceria no caso de um naufrágio, escrever
uma carta para um desconhecido é um gesto de desespero, mas não de confiança
d) O “destino
certo” seria a carta ser lida por Paulo, capaz de resgatá-la da solidão, ou da
falta de amigos
e) nra
04)
Segundo o narrador, o próprio Paulo se surpreendeu diante de seu ímpeto de
responder a carta. Que característica do personagem poderia explicar esta
surpresa?
a) sua timidez;
b) sua sorte;
c) sua coragem;
d) sua
determinação;
e) seu
conhecimento.
05)
Releia o trecho a seguir e observe a palavra em destaque:
“Nela, confessava que também se
sentia sozinho que gostaria de partilhar com a desconhecida missivista suas
ideias, seus sentimentos, suas emoções.”
Que
relação de sentido, a palavra COM estabelece entre os termos ligados por ela?
a) causa;
b) direção;
c) companhia;
d) adversidade;
e) contrariedade.