segunda-feira, 14 de agosto de 2023

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 19/08/23 – VALE 5,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

 

Texto 01 

Nos anos a.I. (antes da Internet)

       Outro  dia,  numa  escola,  um  dos  alunos  me  perguntou como é que as pessoas se comunicavam quando não existia a Internet ─ isto é, na pré-história. Eu expliquei que já havia outros meios rudimentares de comunicação, tais como a carta e até mesmo o telefone. Não sei se o garoto ficou satisfeito com a resposta; mas a verdade é que a pergunta dele me fez lembrar uma curiosa história, acontecida com um colega meu. Antes da Internet, obviamente.

O colégio em que estudávamos tinha sido, por muito tempo, um estabelecimento exclusivamente masculino. Por fim, e depois de anos e  discussão,  a  direção  resolveu  admitir  alunas,  mas  com  uma condição: as turmas não seriam mistas. Rapazes de manhã, garotas à tarde. Não sei exatamente o que temiam, que fantasias povoavam a cabeça  daquelas  pessoas;  mas  deveria  ser  algo  muito  alarmante porque, apesar dos protestos do grêmio estudantil, não arredaram pé da decisão. E, assim, as meninas foram finalmente admitidas, mas nunca viam os seus colegas do sexo oposto.

Eu tinha um colega chamado Paulo. Um garoto magrinho, de óculos, tímido e estudioso, tão tímido quanto estudioso. Ele falava muito pouco, mas tinha uma qualidade: escrevia bem. A professora de português não poupava elogios às redações que ele fazia. E, quando elogiava,  Paulo  ficava  vermelho,  embaraçado,  tamanha era sua timidez.

Uma manhã, ao guardar os livros sob a carteira, ele encontrou ali uma folha de papel cuidadosamente dobrada. Abriu-a e leu: “Ao meu colega da manhã”.

Era  uma  longa  carta,  escrita,  curiosamente,  em  letra  de imprensa. Nela, a garota, que assinava apenas “Solitária da tarde”, montava que não tinha namorado nem amigas, que se sentia muito só que por isso recorrera àquele meio para se comunicar com alguém. Estou fazendo como o náufrago”, dizia, “que coloca uma mensagem uma garrafa e joga-a ao mar. Espero que esta mensagem chegue ao destino certo.”

Paulo não estava certo de que ele era “o destino certo”. Na verdade,  ficara  profundamente  perturbado  só  de  ler  a  carta.  Mas então, e num gesto que a ele próprio surpreendeu, pegou uma folha e papel e ali mesmo, em plena aula, escreveu uma longa carta para  “Solitária da tarde”. Nela, confessava que também se sentia sozinho que gostaria de partilhar com a desconhecida missivista suas ideias, seus  sentimentos,  suas  emoções.  E  assinou,  talvez  sem  muita imaginação, “Solitário da manhã”. Dobrou a carta e, disfarçadamente, colocou-a sob a carteira, esperando que a servente não encontrasse o papel.

 

A servente, que fazia seu trabalho apressadamente, de fato não achou a carta. Mas a destinatária, sim. No dia seguinte, ao chegar à escola, a primeira coisa que Paulo fez foi procurar pela resposta. O coração batendo forte, tateou o compartimento. Dito e feito: lá estava a folha de papel.

Esta  correspondência  se  prolongou  pelo  ano  inteiro. Nenhum dos dois propôs um encontro. Aparentemente, o que ambos queriam era exatamente aquilo, trocar confidências. Mas, lá pelas tantas, Paulo deu-se conta: não era só a afinidade que o movia.  Era  mais  do  que  isto.  Ele estava  apaixonado  pela correspondente. E queria vê-la. Queria falar com ela. Queria, quem sabe, segurar sua mão. Mas faltava-lhe coragem...

E então algo aconteceu que o fez tomar uma decisão.

Uma noite, o pai dele voltou para casa arrasado. Não quis nem  jantar:  disse  à  mulher  e  a  Paulo,  filho  único,  que precisavam conversar. Sentaram os três na sala e ele contou: estava indo mal nos negócios, tinha de vender a pequena loja que  possuía  para  pagar  as  dívidas.  A partir  daquele  dia trabalharia  numa  outra  loja,  mas  como  empregado.  

Isto significava  que  o  nível  de  vida  da  família  baixaria  muito. Venderiam o carro, procurariam uma outra casa, menor ─ e Paulo teria de mudar de colégio: aquele era muito caro.

Foi muito triste aquela cena, os pais abraçados, chorando, mas Paulo só conseguia pensar numa coisa: estava a ponto de perder sua correspondente. E então decidiu: precisava vê-la.

Talvez  com  isso  se  quebrasse  o  encanto,  talvez  ela  não quisesse saber dele, o que seria muito compreensível: Paulo estava longe de ser um galã. A moça, pelo contrário ─ e ao menos na imaginação dele ─, era muito linda.

Naquela noite quase não dormiu. De manhã, tinha resolvido: contaria o ocorrido numa carta, proporia que se encontrassem. Sabia que disso poderia resultar uma grande desilusão para ela, mas, uma vez que ele não teria mais como lhe escrever, teriam pelo menos uma despedida de amigos.

Foi o primeiro a chegar à aula. Introduziu a mão sob a carteira ─ e nada encontrou. Nenhuma folha de papel. Procurou de novo, e mais uma vez: nada. Àquela altura já estava confuso, desesperado mesmo: o que teria acontecido? Teria a servente encontrado a carta ─ e jogado fora? Criou coragem e no intervalo  foi  procurá-la,  na  sala  dos  funcionários.  Suando  profusamente,  e

gaguejando, perguntou se ela havia encontrado uma folha de papel manuscrito. A servente, uma mulher gorda, de cara meio debochada, olhou-o e disse que não: não encontrara papel algum na carteira do Paulo. Ele então, suando ainda mais, disse que tinha um pedido a fazer: que ela não limpasse sua carteira, ao menos por uns dias. A servente riu, piscou o olho:

─ Já sei: você está escrevendo bilhetinhos para uma colega. Vá em frente, rapaz: eu não vou mexer mais na sua carteira. [...]. [...] Naquele dia, nada escreveu.

E, no dia seguinte, de novo a carteira estava vazia. Não sabia o que pensar. O que teria acontecido com a “Solitária da tarde”? Teria adoecido? Teria, como ele estava a ponto de fazer, deixado o colégio?

Só havia um meio de saber.

Naquela tarde foi ao colégio. O porteiro quis barrar-lhe a entrada ─ tinha ordens da direção para não deixar os alunos da manhã entrarem depois do meio-dia ─, mas Paulo alegou que tinha um assunto urgente para resolver na secretaria. Por fim, e ainda desconfiado, o homem deixou-o entrar.  

Paulo foi avançando pelo corredor, em direção à secretaria. Felizmente, sua sala ficava no caminho. Ao passar por ali, lançou um disfarçado olhar pela janela ─ e seu coração quase parou.

Havia uma garota sentada na mesma cadeira em que ele sentara pela manhã.  Uma  garota  loirinha,  magrinha  ─ bonita,  muito bonita. Exatamente como Paulo imaginara? Isso ele agora não saberia dizer. Talvez sim, talvez não: o fato é que a imagem mental que ele fizera da desconhecida missivista agora dava lugar a uma figura real. E essa figura já se apossara de seu coração.

Saiu do colégio, mas não foi para casa: ficou no bar em frente ao colégio até que a campainha soou, anunciando o fim das aulas. As garotas iam saindo, rindo, conversando. Por fim ele a avistou. Tal como esperava, ela estava sozinha. E, pelo jeito, morava perto, porque foi andando, sozinha. Ele a seguiu por uns dois ou três quarteirões e por fim, num gesto que a ele próprio surpreendeu, adiantou-se e, apresentando-se como o colega que ocupava a mesma classe pela manhã, disse que queria conhecê-la. Ela olhou-o, e para surpresa e encantamento dele, sorriu:

─ Eu também queria conhecer você. Afinal, alguma coisa em comum nós temos, não é mesmo? Ou, quem sabe, muita coisa em comum.

E foi assim que tudo começou. Terminou em casamento, claro, mas não é disso que quero falar agora.

Quando Paulo me contou essa história, muitos anos depois, a coisa que mais me impressionou foi o fato de que, por muito tempo, ele não mencionou as cartas. Não tinha coragem, ou não era necessário... O fato é que não  falou  a  respeito.  O  assunto  veio  por  acaso.  Um  dia,  olhando  uma  caderneta  em  que  ela  tomava anotações, comentou:

─ Pensei que você gostasse de escrever em letra de imprensa.

Ela mirou-o, intrigada:

─ Em letra de imprensa? Por que haveria eu de escrever em letra de imprensa? Você não acha minha letra boa?

─ Acho. Mas nas cartas que você me mandava...

─ As cartas que eu lhe mandava? ─ Ela, assombrada ─ Que cartas? Eu nunca lhe mandei carta alguma, Paulo. Você está sonhando?

E então tudo se esclareceu. Ela não era a “Solitária da tarde”. Na verdade, sentava em outro lugar; só passara a ocupá-lo depois que a antiga dona subitamente deixara o colégio: a família mudara para outro estado.  Paulo ri muito, quando me conta essa história. E ela não deixa de ser engraçada. Mas é também um pouco melancólica. Paulo é feliz, mas, e a “Solitária da tarde”, que terá  acontecido com ela? Será que continua solitária? Será que continua se correspondendo com missivistas desconhecidos? Provavelmente sim. Só que agora decerto recorre à Internet. Mesmo a solidão se moderniza.

 


FALCÃO, Adriana e outros. Histórias dos tempo de escola. São Paulo: Nova Alexandria,2002

 

01) Sobre o texto, não podemos afirmar que:

a) o conto gira em torno de uma situação inusitada, vivida entre dois alunos de uma escola;

b) o texto conta a troca de cartas entre Paulo e a “Solitária da Tarde”;

c) a grande surpresa dessa história é o fato de Paulo ter se casado com uma garota, pensando tratar-se da Solitária da Tarde;

d) garota com a qual Paulo se correspondia é a mesma pela qual ele se apaixonou na escola;

e) nra

 

02) A informação de que as pessoas se comunicavam principalmente por meio de cartas e de que a escola não era mista, demonstra:

a) que a ambientação era um colégio rígido e religioso

b) que o colégio onde estudavam os personagem com certeza se situava na região rural

c) a falta de recursos financeiros dos personagens

d) que os fatos narrados aconteceram em uma época diferente da nossa

e) nra

 

03) Ainda sobre o texto, é correto afirmar que:

a) Ao explicar o motivo que a levou a escrever a carta, Paulo diz que o faz como náufrago e espera que a mensagem chegue ao destino

b) O uso do termo “náufrago” revela que como aconteceria no caso de um naufrágio, escrever uma carta para um desconhecido é um gesto de desespero.

c) O uso do termo “náufrago” revela que como aconteceria no caso de um naufrágio, escrever uma carta para um desconhecido é um gesto de desespero, mas não de confiança

d) O “destino certo” seria a carta ser lida por Paulo, capaz de resgatá-la da solidão, ou da falta de amigos

e) nra

 

04) Segundo o narrador, o próprio Paulo se surpreendeu diante de seu ímpeto de responder a carta. Que característica do personagem poderia explicar esta surpresa?

a) sua timidez;

b) sua sorte;

c) sua coragem;

d) sua determinação;

e) seu conhecimento.

 

05) Releia o trecho a seguir e observe a palavra em destaque:

“Nela, confessava que também se sentia sozinho que gostaria de partilhar com a desconhecida missivista suas ideias, seus  sentimentos,  suas  emoções.”

Que relação de sentido, a palavra COM estabelece entre os termos ligados por ela?

a) causa;

b) direção;

c) companhia;

d) adversidade;

e) contrariedade.