Primeiramente, quero que leiam as
REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para
realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
Antes que elas
cresçam
Affonso Romano de
Sant'Anna
Há um período em
que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças
crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados,
elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do
governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos
discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e,
às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem
todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.
Um dia se assentam
perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que
não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou
crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de
leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo
num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali,
na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali
estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos
soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas
potrancas.
Entre hambúrgueres
e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração:
incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na
cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito,
é o emblema da geração.
Pois ali estamos,
depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou
intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o
casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar
dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E
elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos
doutoramos nos nossos erros.
Há um período em
que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o
momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas
vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando
surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e
inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias
vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção
francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no
apartamento dela.
Deveríamos ter ido
mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e
confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele
quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as
levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não
lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os
sorvetes e roupas merecidas.
Elas cresceram sem
que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio
subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas,
engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas
dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches
infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma
aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos
filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem
a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas
pestes.
O jeito é esperar.
Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e
estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por
isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os
netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa
a mais, antes que elas cresçam.
01) Sobre o texto acima, é
incorreto afirmar que:
a) A crônica apresenta a visão do autor
sobre a relação entre o crescimento dos filhos e os sentimentos dos pais
b) No primeiro parágrafo a frase "Há
um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos."
sintetiza a visão do autor sobre o fato explicitado na alternativa “a”;
c) Ao empregar a frase da alternativa “b”,
o cronista demonstra contentamento;
d) Melancolia é o teor sentimental do
texto do autor Affonso Romano;
e) nra
02) Algumas frases do texto fazem
referência a diferentes períodos de crescimento do ser humano. Identifique
abaixo, qual das frases não corresponde ao período do crescimento:
a) "Saíram do banco de trás e
passaram para o volante das próprias vidas." - (vida adulta)
b) "Cadê a pazinha de brincar na
areia, as festinhas de aniversário com palhaços...” - (infância)
c) “Entre hambúrgueres e refrigerantes nas
esquinas, lá estão elas, com uniforme de sua geração...” – (adolescência)
d) “Longe já vai o momento em que o
primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas.” – (velhice)
e) nra
03) O cronista emprega, em alguns
trechos desse texto, uma linguagem que busca um diálogo com o leitor. Que
palavras utilizadas no undécimo parágrafo reforça a ideia de que o cronista
busca essa cumplicidade?
a) Deveríamos, levamos, demos, compramos
b) Cama, anoitecer, alma, confidências
c) Hambúrgueres, cocas vírgulas sorvetes,
roupas
d) Cobertores, colagens, pôsteres, agendas
e) Lençóis, adolescentes, infância,
respiramos
FIGURAS DE LINGUAGEM
04) Em todas as alternativas
abaixo, aparece a figura de linguagem personificação, também chamada de
prosopopeia, com exceção de...
a) as galinhas cacarejavam no sítio
b) os cachorrinhos estão felizes
c) os diários contam segredos
d) as taças de vinho celebram o ano novo
e) a natureza suplica por preservação
09) Nos períodos abaixo, marque M,
quando a for apresentada Metáfora, e C, quando for Comparação. Depois marque a
alternativa que contenha a sequência correta das respostas:
a) M – M – C – C – M
b) M – C – C – C – M
c) M – C – M – C – M
d) C – M – C – M – C
e) C – C – M – M – C