segunda-feira, 10 de junho de 2024

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 15/06/24 – VALE 10,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.htmlpara realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

 

Texto 01

O arquivo

Victor Giudice

 

No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos.

         Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

joão transformou-se num arquivo de metal.

 


01) A Ironia consiste em dizer o contrário do que se pensa, mas dando a entender o que realmente se pensa, é empregada num texto como recurso para criticar determinada pessoa ou determinada situação. Qual dos termos abaixo, retirados do texto não representa ironia?

a) Recompensa

b) contentamento

c) reconhecimento

d) objetivos

e) emoção

 

02) O nome da personagem aparece grafado com inicial maiúscula, apenas o primeiro parágrafo do texto. No restante da narrativa parece com inicial minúscula. Sobre isso aponte a alternativa correta:

a) Essa maneira de escrever não constitui uma infração de ortografia;

b) A liberdade textual permite que o autor, em qualquer tipo de texto, reduza a letra inicial do nome tornando-o um substantivo comum;

c) A intenção do autor, ao infringir propositalmente a gramática, provavelmente seria mostrar a transformação de João numa coisa, num ser inanimado, já que substantivos comuns se grafam com letra inicial minúscula;

d) João é um substantivo que pode ser comum e próprio ao mesmo tempo na língua portuguesa;

e) nra

 

03) Ainda sobre o texto é falsa a alternativa...

a) A situação ironizada pelo autor é a situação do trabalhador, que por mais que se esforce, ganha cada vez menos e acaba perdendo a dignidade;

b) O clímax da gradação apresentada no texto sobre a carreira de João, seria o corte total do salário e a nova função: faxineiro de sanitários;

c) No desfecho do conto João transforma-se num arquivo;

d) O desfecho do texto mostra a desumanização de João, ou seja, do trabalhador mal remunerado;

e) Sobre moradia, o texto mostra que João muda-se para locais cada vez mais pobres, porém perto do seu trabalho, até ficar no relento.

 

04) Observe o trecho abaixo:

“No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.”

Sobre os termos sublinhados, podemos afirmar que:

a) o primeiro é um numeral e o segundo, um artigo;

b) o primeiro é um artigo e o segundo, um numeral;

c) os dois são numerais;

d) os dois são artigos;

e) nenhum deles é artigo indefinido.

 

05) Aponte a alternativa onde a preposição destacada não sofreu contração:

a) Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

b) Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

c) Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

d) Nesta noite, joão não pensou em nada.

e) Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

 

Texto 02

MOÇA DEITADA NA GRAMA

Carlos Drummond de Andrade

 

A moça estava deitada na grama.

Eu vi e achei lindo. Fiquei repetindo para meu deleite pessoal: “Moça deitada na grama. Deitada na grama. Na grama”. Pois o espetáculo me embevecia. Não é qualquer coisa que me embevece, a esta altura da vida. A moça, o estar deitada na grama, àquela hora da tarde, enquanto os carros passavam e cada ocupante ia ao seu compromisso, à sua alegria ou à sua amargura, a moça e sua posição me embeveceram.

Não tinha nada de exibicionista, era a própria descontração, o encontro do corpo com a tranquilidade, fruída em estado de pureza. Quem quisesse reparar, reparasse; não estava ligando nem desafiando costumes nem nada. Simplesmente deitada na grama, olhos cerrados, mãos na testa, vestido azul, sapatos brancos, pulseira, dois anéis, elegante, composta. De pernas, mostrava o normal. Não era imagem erótica.

Dormia? Não. Pequenos movimentos indicavam que permanecia consciente, mas eram tão pequenos que se percebia seu bem-estar inalterável, sua intenção de continuar assim à sombra dos edifícios, no gramado.

Resolvi parar um pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça, plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de ser imóvel. E que arfava docemente. Ah, o arfar da moça, que lhe erguia com leveza o busto, lembrando o sangue de circular nas artérias silenciosas, tão vivo; e tão calmo, como se também ele quisesse descansar na grama, curtir para sempre aquele instante de felicidade.

Eis se aproxima um guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. De leve. Ela abre os olhos, sorri bem-disposta:

– Quer deitar também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:

– Não, moça… me desculpe. É o seguinte. A senhora… quer fazer o favor de levantar?

– Levantar por quê? Está tão bom aqui.

– A senhora não pode ficar aí assim não. Levante, estou lhe pedindo.

– Por que hei de levantar? Minha posição é cômoda, eu estou bem aqui. Olhe ali adiante aquele homem, ele também está deitado na grama.

– Aquele homem é diferente, a senhora não percebe?

– Percebo que é homem, e daí? Homem pode, mulher não?

– Bom, poder ninguém pode, é proibido, mas sendo homem, além disso mindingo…

– Ah, compreendo agora. Sendo homem e mindingo, tem direito a deitar no gramado, mas sendo mulher, tendo profissão liberal, pagando imposto de renda, predial, lixo, sindicato, etc., nada feito. É isso que o senhor quer dizer?

– Deus me livre, moça. Quem sou eu para dizer uma coisa dessas? Só que é a primeira vez, e eu tenho dez anos de serviço, que vejo uma dona como a senhora, bem-vestida, bem-apessoada, assim espichada na grama. Com a devida licença, achei que não ficava bem imitar os homens, os mindingos, que a gente tem pena e deixa por aí…

– Faça de conta que eu também sou mindinga – e a moça abriu para ele um sorriso especial.

– Para o bem da senhora, não convém se arriscar desse jeito.

– Eu acho que não estou me arriscando nada, pois tem o senhor aí me garantindo.

– Obrigado. Eu garanto até certo ponto, mas basta a gente virar as costas, vem aí um elemento e furta o seu reloginho, a sua bolsa, as suas coisas.

– Sei me defender, meu santo. Tenho o meu cursinho de caratê.

– Tá certo, mas não deve de facilitar. A senhora se levante, em nome da lei.

– Espere aí. Ou todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade.

– Essa lei eu não conheço, dona. Não posso conhecer todas as leis. Essa que a senhora fala, eu acho que não pegou.

– Mas deve pegar. É preciso que pegue, mais cedo ou mais tarde.

– Não vai levantar?

– Não.

Ele coçou a cabeça. Agarrar a moça era violência, ela ia reagir, juntava povo, criava caso. Afinal, não estava fazendo nada de imoral nem subversivo. Por outro lado, não pegava bem moça deitada na grama – ele devia ter na mente a idéia de moça vestida de gaze, aérea, meio arcanjo, nunca deitável no chão de grama, como qualquer vagabundo fedorento.

– A senhora não devia me fazer uma coisa dessas.

– Fazer o quê?

– Me expor nesta situação.

– Eu não fiz nada, estava numa boa oriental, o senhor chega e…

– É muito difícil lidar com mulheres, elas têm resposta para tudo.

– Vamos fazer uma coisa. O senhor faz que não me viu, vai andando, eu saio daqui a pouco. Só mais dez minutos, para não parecer que estou cedendo a um ato de força.

– Pode ficar o tempo que quiser – decidiu ele. – A senhora falou numa tal lei da igualdade, então vamos cumprir. Só que aquele malandro ali adiante tem de se mandar urgente, eu vou lá dar um susto nele, já gozou demais da lei da igualdade, agora chega!

 


06) A frase “Não é qualquer coisa que me embevece a essa altura da vida” mostra que:

a) O cronista já não era jovem

b) O cronista não tinha medo da morte

c) O cronista teme a morte como qualquer outro ser humano

d) O cronista compadece da situação da moça

e) nra

 

07) Sobre o texto é correto afirmar que:

a) A moça deitada na grama compõem uma cena que transmitia tranquilidade, calma e descontração

b) A chegada de um guarda não perturbou a tranquilidade da Moça

c) O convite que a moça faz ao Guarda para aproveitar a tarde gostosa, a fala dela e sua capacidade de argumentar, deixa o mais seguro de si

d) O sinal de pontuação que revela na resposta do guarda que ele ficou encabulado, é o ponto de exclamação

e) A moça em momento algum se acha no direito de desobedecer ao guarda

 

08) Sobre o texto é incorreto afirmar que

a) Ao dizer que o outro além de ser homem era mendigo, o guarda contra-argumenta a moça

b) Ao comparar a atitude da moça quando mendigo, o guarda leva em conta a diferença de sexo e a situação social de cada um

c) Ao dizer “A senhora se levante em nome da lei.” o contra-argumento utilizado pela moça é, “ou todos se levantam ou eu continuo deitada em nome da lei da igualdade”

d) A moça quis sair um pouco depois do guarda para não parecer que está cedendo a um ato de força

e) nra

 

09) Em qual das falas abaixo, apesar da ausência do ponto de exclamação, encontramos uma interjeição?

a) – Levantar por quê? Está tão bom aqui.

b) – Por que hei de levantar?

c) – Aquele homem é diferente, a senhora não percebe?

d) – Ah, compreendo agora.

e) –Homem pode, mulher não?

 

10) Em qual dos períodos abaixo, não encontramos conjunção?

a) Pois o espetáculo me embevecia.

b) ... plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de ser imóvel.

c) Tenho o meu cursinho de caratê.

d) Tá certo, mas não deve de facilitar.

e) Afinal, não estava fazendo nada de imoral nem subversivo.