segunda-feira, 1 de maio de 2023

TAREFA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA 06/05/23 – VALE 5,0%

Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:

(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.htmlpara realizarem-na de forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.

 

O INCÊNDIO DE CADA UM

Affonso Romano de Sant'Anna

 A cena foi simples. Ia eu passando de carro pela Lagoa quando vi na calçada uma moça esperando o ônibus com seu jeans e bolsa a tiracolo. Nada demais numa moça esperando o ônibus. Mas eis que passou um caminhão de som tocando uma lambada. Aí aconteceu. Aconteceu uma coisa quase imperceptível, mas aconteceu: os quadris da moça começaram a se mexer num ritmo aliciante. Já não era a mesma criatura antes estática, solitária, esperando o ônibus na calçada. Ela havia se coberto de graça, algo nela se incendiara.

A fotógrafa veio fazer umas fotos. Estava com o pescoço envolto num pano, pois tinha torcicolo. E eu ali posando meio frio, fingindo naturalidade, e ela cautelosa com seu pescoço meio duro, tirando uma foto aqui, outra ali, quase burocraticamente. De repente, ela descobriu um ângulo, e pronto: se incendiou profissionalmente, jogou-se no chão, clic daqui, clic dali, vira para cá, vira para lá, este ângulo, aquele, enfim, desabrochou, o pescoço já não doía. Ela havia detonado em si o que mais profundamente ela era.

Estamos numa festa. Aquele bate-papo no meio daquelas comidinhas e bebidinhas. Mas de repente alguém insiste para que outro toque violão. Aparentemente a contragosto ele pega o instrumento. E começa a dedilhar. Pronto, virou outra pessoa. Manifestou-se. Elevou-se acima dos demais, está além da banalidade de cada um. Achou o seu lugar em si mesmo.

Assim também ocorre quando vemos no palco o cantor dar seus agudos invejáveis, o bailarino dar seus saltos ou o atleta no campo disparar seus músculos e fazer aquilo que só ele pode fazer melhor que todos nós. Isto é o que ocorre quando o instrumentista pega o sax e sexualiza todo o ambiente com seu som cavernoso e erótico. Isto é o que se dá até quando um conferencista ou um professor entreabre o seu discurso e põe-se como uma sereia a seduzir a plateia, como um maestro seduz todo o teatro.

Há um momento de sedução típico de cada um. Quando o indivíduo está assentado no que lhe é mais próprio e natural. E isto encanta.

Claro, esses são exemplos até esperados. Mas há outros modos de o corpo de uma pessoa embandeirar-se como se tivesse achado o seu jeito único e melhor de ser. Digo, o corpo e a alma.

Mas nem todos podemos ser tão espetaculares. Nem por isso o pequeno acontecimento é menos comovente.

De que estou falando? De algo simples e igualmente comovente. Por exemplo: o jardineiro que ao ser jardineiro é jardineiro como só o jardineiro sabe e pode ser.

E que ao falar das flores, ao exibi-las cercadas de palavras, percebe-se, ele está em transe. Igualmente o especialista em vinhos, que ao explicar os diversos sabores nos quatro cantos da boca faz seus olhos verterem prazer e embalam a quem o ouve com sua dionisíaca sabedoria.

Feita com amor, até uma coleção de selos se magnifica. Se torna mais imponente que uma pirâmide se a pirâmide for descrita ou feita por quem não a ama. É assim que pode entrar pela sala alguém e servir um cafezinho, mas sendo aquele o cafezinho onde ela põe sua alma, ela se torna de uma luminosidade invejável.

Cada um tem um momento, um gesto, um ato em que se individualiza e brilha. Nisto nos parecemos com os animais e peixes ou quem sabe com as nuvens. Animais e peixes têm isto: têm trejeitos raros e sedutores, cada um segundo sua espécie. Até as nuvens, como eu dizia, tem seu momento de glória.

Uma vez vi um pintor em plena ação, pintando. Meu Deus! O homem era um incêndio só, uma alucinação. Sua face vibrava, havia uma febre nos seus gestos. Era uma erupção cromática, um assomo de formas e volumes.

Então é disso que estou falando. Dessa coisa simples e única, quando o que cada um tem de mais seu relampeja a olhos vistos. Quando isto se dá, quebra-se a monotonia e o indivíduo se transcendentaliza.

Pode parecer absurdo, mas já vi uma secretária transcendentalizar-se ao disparar seus dedos no teclado da máquina de escrever. Era uma virtuose como só o melhor violinista ou pianista sabem ser. E as pessoas achavam isto mais sensacional que se ela estivesse engolindo fogo na esquina.

Isto é o que importa: o incêndio de cada um. Cada qual deve ter um jeito de deflagrar sua luz aprisionada. As flores fazem isto sem esforço. Igualmente os pássaros. Todos têm seu momento de revelação. É aguardar, que o outro alguma hora vai se manifestar.


 

(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas.3.

ed. São Paulo, Áttica, 1997. p. 86-9, “Para Gostar de Ler 16”)

 

01) No sexto parágrafo do texto, o autor afirma: “Claro que são exemplos até esperados”. Dentre os exemplos, citados nos parágrafos anteriores, NÃO podemos citar:

a) o da moça que esperava o ônibus;

b) o da fotógrafa, do maestro e do bailarino

c) o do violinista e do atleta, do conferencista

d) o do cantor e do saxofonista

e) todos acima

 

02) O que o cronista deseja demonstrar com exemplos citados na alternativa anterior?

a) deseja provar que, num determinado momento cada pessoa revela o que tem de melhor em si, encontra “seu jeito único e melhor de ser.”;

b) deseja demonstrar que as diferenças realmente existem, mas não são preponderantes nas relações;

c) deseja demonstrar que, aqueles que estudam chegam ao seu objetivo mais rapidamente, em detrimento aos que não possuem conhecimento.

d) deseja, de certa forma, demonstrar o valor interior das pessoas que trabalham com pessoas.

e) deseja demonstrar que a vitória pertence a todos aqueles que buscam superar seus limites.

 

03) Sobre o texto podemos afirmar que:

a) O autor considera os exemplos da questão 01 inesperados;

b) A comparação, um dos recursos que empregamos frequentemente, com a finalidade de ressaltar nossas ideias, é vista pelo autor através da relação feita entre o ser humano e animais, peixes, nuvens, mares e pássaros

c) A cena que se narra no segundo parágrafo faz supor que o cronista seja alguém comum, sem fama;

d) O fato de a fotógrafa ter ido até a casa do cronista para fotografá-lo provavelmente para alguma reportagem de Jornal ou revista, revela sua identidade.

e) Para escrever sua crônica o autor partiu de fatos excepcionais.

 

04) Em todas alternativas abaixo, vemos exemplos de Conjunções, com exceção da letra...

a) Cada um tem um momento, um gesto, um ato em que se individualiza e brilha.

b) Estava com o pescoço envolto num pano, pois tinha torcicolo.

c) Aconteceu uma coisa quase imperceptível, mas aconteceu:...

d) Era uma virtuose como só o melhor violinista ou pianista sabem ser.

e) Sua face vibrava, havia uma febre nos seus gestos.

 

05) Observe as frases a seguir e marque a alternativa que classifique corretamente o emprego do termo “a” em cada uma delas respectivamente:

I) Aparentemente a contragosto ele pega o instrumento.

II) Dessa coisa simples e única, quando o que cada um tem de mais seu relampeja a olhos vistos.

III) Se torna mais imponente que uma pirâmide se a pirâmide for descrita ou feita por quem não a ama.

IV) ...e põe-se como uma sereia a seduzir a plateia, como um maestro seduz todo o teatro.

 

a) artigo – preposição – preposição – artigo

b) pronome – artigo – preposição – preposição

c) preposição – preposição – pronome – artigo

d) artigo – pronome – preposição – pronome

e) todas são preposições

 

06) Esta você vai ter que dar uma pesquisada: Aponte a alternativa mais correta possível em relação ao gênero dos termos e seus artigos:

a) O alface – A cal

b) O dó – O chinelo

c) O guaraná – O mousse

d) A omelete – A grama (peso)

e) O grama (vegetal) – A diabete.

 

07) Qual dos grupos de palavras são formados apenas por interjeições de Desejo?

a) oxalá!, queira deus!, pudera!

b) bravo!, bis!, viva!

c) oh!, ah!, uhu!

d) uf!, ah!, ainda bem!

e) uau!, caramba!, caraca!