Primeiramente, quero que leiam as REGRAS DE TAREFA:
(http://cursopreparatorioparacefetmt.blogspot.com/2022/01/regras-de-tarefa-do-curso-para-novos.html) para realizarem-na de
forma correta e não deixar que sejam desclassificadas.
UMA AULA DE MÚSICA DO MEU AVÔ
Eu sempre gostei muito de música.
Hoje, que sou adulto, dou aula de música na universidade e escrevo sobre
música no jornal. Gosto tanto de música que não aguento ouvir todo dia.
Só ouço quando posso prestar atenção de verdade: quando sinto que estou
pronto para escutar. Porque a música me toca mais do que qualquer outra coisa.
Mas não é bem de música que eu quero falar. Quero falar do meu avô. Ou melhor:
de uma cena que eu lembro, da minha infância, e que tem a ver com a música e
com o meu avô. Ele se chamava Maurício e foi com ele que eu comecei a ouvir
música.
O vô Maurício não tocava nada, não era capaz nem de assobiar o Hino
Nacional, mas escutava música sempre, no rádio ou no toca-disco. Assim que
percebeu que eu também gostava de música, passou a me levar aos concertos com
ele. E foi só ir a um concerto que comecei a incomodar meus pais, pedindo para
ter aula de música. Tanto incomodei que eles me puseram em uma escola para
aprender flauta doce.
Eu gostava de música e gostava do meu avô. E acho que essas duas coisas
se misturavam. Foi por isso que nunca esqueci o que eu quero contar para vocês.
O vô Maurício era casado com a vó Luísa. Os dois moravam numa casa linda,
enorme. Para falar a verdade, talvez nem fosse tão grande assim; mas para mim,
naquela época, era. Eu devia ter uns sete ou oito anos. E a gente sempre vê as
coisas de acordo com o nosso tamanho.
Todo domingo a gente almoçava na casa dos meus avós. Meu pai, minha mãe,
minha irmã e eu. Mas o vô Maurício e a vó Luísa comandavam as coisas no almoço.
Quem comandava a música era o meu avô: escolhia um disco ou deixava o
rádio ligado na estação de música clássica, que era a que ele mais gostava, e
eu também. Desde pequeno, sempre gostei mais de música clássica do que de
qualquer outra.
Num desses domingos, então, estava tocando uma música no rádio enquanto
a gente esperava a minha avó chamar para a mesa. Eu ainda não conhecia muita
música, claro. Depois que a gente já escutou horas e horas, já leu a respeito,
já foi a alguns concertos, vai ficando fácil conhecer o que está tocando. Não é
preciso fazer um esforço: a gente sabe que a voz da mãe é a voz da mãe, e a do
pai é a do pai. A música já está dentro da gente – mesmo uma que a gente nunca
ouviu.
Não conhecia muita música, mas sabia qual era aquela que estava tocando
no rádio do meu avô. Era um trecho das Quatro Estações de Vivaldi. Não havia a
menor chance de eu estar enganado. Já tinha ouvido aquela música muitas vezes.
Disse, então, sem pensar:
“Isso é Vivaldi, As Quatro Estações.”
“Não é não, disse o meu avô. É Bach.”
“É Vivaldi, insisti. As Quatro Estações.”
“Não seja bobo, menino. É Bach.”
A discussão foi se arrastando e eu não sabia o que fazer. Não tinha
dúvida de que era Vivaldi e estava orgulhoso de saber o que era. Queria me
exibir um pouco. Especialmente para o meu avô. E aí é que estava o problema.
Porque eu gostava demais do meu avô, era justamente para ele que eu estava
dizendo aquilo. Estava decepcionado de ver que ele se enganara e mais
decepcionado ainda de sentir que ele não confiava na minha opinião. E estava também
um pouco encabulado, porque tinha certeza do que tinha dito, a música na rádio
era Vivaldi, o meu avô Maurício ia acabar descobrindo que estava errado, ia
ficar sem jeito e a culpa era minha. Eu não queria magoar o meu avô. Também não
queria dar o braço a torcer. E tudo passando muito rápido, e eu sabia que, de
um jeito ou de outro, não podia acabar bem. Ficou aquela tensão na sala. Minha
mãe puxou conversa para ver se aliviava, mas lembro até hoje do mal-estar que
senti. Finalmente a música acabou, e o locutor anunciou o que tinha acabado de
tocar. Vilvaldi: As Quatro Estações.
Fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Estava contente por ter
acertado, mas estava mais triste do que contente. Era como se eu tivesse
envergonhado o meu avô, em pleno almoço de domingo. Agora, sim, não sabia o que
fazer. E não fiz nada, mesmo; fiquei quieto, meio encolhido, meio chorando. Meu
avô, então, fez uma coisa que eu nunca esqueci. Para mim, ele era só o meu avô
e pronto. Mas eu sabia muito bem que, para os outros, o vô Maurício era um
homem muito importante, muito respeitado – e um homem que sabia de música. Pois
meu avô foi até onde eu estava, num canto do sofá. Atravessou a sala, foi até
ali, me olhou nos olhos e disse, com a maior simplicidade: “Desculpe. Você
tinha razão. Eu quero lhe pedir desculpas”.
Histórias de avô e avó. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998, p.7
01)
Sobre o personagem principal do texto, é falso afirmar que:
a) seguiu
carreira profissional na área da música.
b) revela, ao
longo da narrativa, gostar mais de música do que do próprio avô.
c) desenvolveu
o gosto por música clássica ainda na infância.
d) guardou em
sua memória um fato marcante de sua infância.
e) frequentava
a casa dos avós com regularidade.
02) Numere os fatos na ordem em que acontecem no Texto e, em seguida, marque a sequência correta:
( ) O narrador apresenta
seu avô ao leitor.
( ) O conflito é
resolvido com uma atitude inesperada do avô.
( ) O narrador fala de
sua relação com a música e sobre o que faz atualmente.
( ) O narrador começa a
contar um fato de sua infância ocorrido, em um domingo, na casa de seus avós.
( ) Com o passar da
narrativa, ocorre um conflito entre o narrador e seu avô, que cria um clima de tensão
na casa.
a)
4 – 3 – 1 – 5 – 2
b) 3 – 5 – 2 –
1 – 4
c) 2 – 5 – 1 –
3 – 4
d) 4 – 3 – 2 –
1 – 5
e) 1 – 4 – 2 –
5 – 3
03) Leia
as afirmativas sobre o avô do narrador e, em seguida, marque a opção certa:
I -
Sabia tocar vários instrumentos musicais.
II -
Foi a pessoa que introduziu o narrador ao universo musical.
III
- Do ponto de vista do neto, morava numa casa grande e linda.
IV -
Tinha preferência por músicas clássicas.
V -
Nunca reconheceu, diante da família, que cometera algum equívoco.
a) Apenas as
afirmativas II e III são verdadeiras.
b) Apenas as
afirmativas I e V são falsas.
c) Apenas as
afirmativas III e V são falsas.
d) Todas as
afirmativas são falsas.
e) Todas as
afirmativas são verdadeiras.
04)
Observe este trecho!
O
vocábulo em destaque, só não poderia ser substituído, sem alteração de sentido,
por:
a) desiludido.
b) triste.
c) frustrado.
d) satisfeito.
e) desapontado.
05)
Marque a opção cujas duas orações apresentam, respectivamente, a relação de
fato e causa:
a) O menino
incomodou tanto os pais,
que eles
o puseram em uma escola para aprender a tocar flauta.
b) Quando o
vovô percebeu que o neto também gostava de música,
passou a
levá-lo aos concertos com ele.
c) O neto ficou
desapontado,
porque o
avô se enganou sobre a música que tocava no rádio.
d) O avô
constatou que havia se enganado,
sendo
assim, pediu desculpas ao neto.
e) Como não
queria deixar o avô envergonhado,
o neto
ficou encolhido em um canto.